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domingo, 18 de setembro de 2022

Escrito por em 18.9.22 com 0 comentários

World Games (VII)

Semana passada, eu fiz aqui um post atualizando minha série sobre as Olimpíadas. Acontece que eu também já posso atualizar minha série sobre os World Games, pois também já foram realizadas duas novas edições do evento desde meu último post. Pra que esperar? Hoje é, mais uma vez, dia de World Games no átomo!

Breslávia 2017

Quatro cidades se candidatariam a sede dos World Games de 2017, sendo três delas europeias. Ainda na inspeção preliminar, a cidade de Gênova, na Itália, seria descartada, com sua proposta sendo considerada aquém do que pretendia o IWGA. Budapeste, capital da Hungria, seria eliminada logo na primeira rodada de votações, e, na segunda, os delegados do IWGA escolheriam a Cidade do Cabo, na África do Sul, como sede. Apenas três dias antes do anúncio oficial, entretanto, a Cidade do Cabo anunciaria estar desistindo de sua candidatura, alegando razões financeiras. Com isso, a oportunidade de sediar o evento ficaria com a segunda colocada, a cidade polonesa de Breslávia - cujo nome em polonês é Wrocław, que se pronuncia algo como "vrotsuáv".

Esta seria a décima edição dos World Games, e aquela com maior envolvimento do COI: não somente o Presidente do Comitê Olímpico Internacional, o alemão Thomas Bach, discursaria na Cerimônia de Abertura e declararia abertos os Jogos, como também, graças a uma parceria entre IWGA e COI, pela primeira vez todos os eventos de uma edição dos World Games foram transmitidos oficialmente online, através da plataforma The Olympic Channel, o que significava que, pela primeira vez, uma edição dos World Games poderia ser assistida ao vivo por todos os países do mundo. Para garantir a qualidade das transmissões, a IWGA contrataria duas equipes de produção de TV, a ISB e a ATM, que produziriam 400 horas de conteúdo, vendido para canais de TV de 130 países. Um total de 861 jornalistas de mais de 50 países estiveram em Breslávia para cobrir o evento, com um moderno centro de imprensa sendo construído no centro da cidade apenas para acomodá-los. Estima-se que mais de 163 mil espectadores assistiriam às competições presencialmente, e mais de 1600 voluntários viriam de 59 países para trabalhar no evento. Somando tudo isso com os atletas e delegações, a pequena Breslávia, de aproximadamente 630 mil habitantes, viraria um verdadeiro formigueiro nos onze dias de competição.

Os World Games de 2017 seriam realizados entre 20 e 30 de julho, e contariam com a participação de 3292 atletas de 103 delegações, competindo em 199 provas de 32 esportes: bilhar, boliche, boules, cabo de guerra, caratê, corfebol, dança esportiva, escalada esportiva, esportes aéreos, esqui aquático, finswimming, floorbol, frisbee, ginástica acrobática, ginástica aeróbica, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, handebol de praia, hóquei inline, jiu-jitsu, lacrosse, muay thai, orientação, patinação artística, patinação em velocidade, polo a canoa, powerlifting, punhobol, salvamento, squash, sumô e tiro com arco (clique aqui para ver todas as provas do programa). Os esportes convidados seriam quatro: futebol americano, kickboxing, motociclismo (no qual seria disputada a prova do speedway, extremamente popular no Leste Europeu) e o curioso remo indoor, disputado não na água, mas usando equipamentos tipo os de academias de ginástica, que simulam o movimento das remadas - o mais curioso desse esporte, porém, é que, assim como o remo na água, suas provas são divididas em duas categorias, a aberta e a leves, originalmente criada porque o peso dos atletas interfere na velocidade dos barcos na água, mas tem pouca influência no aparelho.

Também pela primeira vez, uma cidade-sede teve autorização da IWGA para construir instalações especificamente para o evento - até então, era uma regra dos World Games que todas as instalações utilizadas já existissem na cidade, com esportes inclusive ficando de fora do programa caso instalações apropriadas para eles não existissem. Entretanto, para que o finswimming e o salvamento, dois dos mais populares esportes do programa, não ficassem de fora, já que as piscinas existentes na cidade foram consideradas inadequadas, Breslávia pediu autorização para construir um novo complexo com piscinas cobertas e descobertas, o que motivou a IWGA a mudar a regra para permitir que novas instalações fossem construídas, desde que não ultrapassassem um terço das utilizadas na competição - regra essa que passou a valer já para 2017, e permitiu que o governo da Baixa Silésia, província onde está localizada Breslávia, construísse também um moderno rinque de patinação na cidade vizinha de Swidnica, onde foram disputadas as provas de patinação artística e patinação em velocidade.

Dentre as instalações que já existiam, a principal seria o Stadion Miejski, usado em três partidas da Eurocopa de 2012, sediada em conjunto por Polônia e Ucrânia, e que em 2017 abrigou as Cerimônias de Abertura e Encerramento. O Stadion Olimpijski, construído entre 1926 e 1928, foi totalmente reformado e modernizado para receber as competições de futebol americano e speedway, e hoje é a casa oficial do time de futebol americano local, o Wroclaw Panthers. O Fórum Nacional de Música, uma das maiores casas de espetáculos da Polônia, inaugurado em 2015, seria escolhido para as competições de powerlifting. O Centennial Hall, pavilhão de exposições construído dentro de um prédio histórico da época em que a Polônia fazia parte do Império Germânico, teria as competições de ginástica, e o moderno ginásio poliesportivo Orbita Hall receberia o kickboxing e o muay thai. Além de Swidnica, outras três cidades vizinhas de Breslávia receberiam eventos: os esportes aéreos seriam disputados no Aeroporto de Szymanow, a orientação teria suas provas realizadas na floresta de Trzebnica, e o remo indoor seria disputado em uma moderna academia na pequena cidade de Jelcz-Laskowice.

Os mascotes do evento seriam um casal de crianças chamados Jas e Malgosia - os protagonistas do conto de fadas conhecido em português como João e Maria. Eles seriam escolhidos através de uma competição aberta ao público, da qual todos os cidadãos poloneses puderam participar. A escolha se deu porque, no centro de Breslávia, há duas casas antigas, uma ao lado da outra, cujos apelidos são João e Maria, e são consideradas o principal ponto turístico da cidade. Os mascotes logo se tornariam famosos no evento, principalmente porque, enquanto o público aguardava o início de cada competição, pessoas vestidas como bonecos enormes de Jas e Malgosia tentavam praticar o esporte que seria disputado dali a pouco - o que era especialmente divertido quando tal esporte era uma das lutas.

Três esportes fariam sua estreia no programa oficial dos World Games, sendo o caso mais curioso o do lacrosse, que teve apenas um torneio feminino - as regras do lacrosse feminino são bem diferentes das do lacrosse masculino, e sua popularidade também é bem menor; visando aumentá-la, a World Lacrosse, federação internacional do esporte e membro da IWGA desde 2013, decidiria que somente a competição feminina faria parte do programa. Outro esporte coletivo que entraria para o programa oficial seria o floorbol, esporte indoor semelhante ao hóquei e muito popular nos países nórdicos, que já havia sido esporte convidado quando os World Games foram realizados na Finlândia, em Lahti, 1997. O terceiro esporte estreante foi o muay thai, cuja inclusão acabou levando a um mal-estar interno na IWGA: tanto a Federação Internacional das Associações de Muay Thai quanto a Associação Mundial das Organizações de Kickboxing são membros da IWGA desde 2014, e, por alguma razão, os delegados do kickboxing acharam um absurdo o muay thai ser incluído e o esporte deles não; a solução encontrada pela IWGA foi pedir para que o comitê organizador abrisse mão de uma das escolhas de esporte convidado a que eles tinham direito para que o kickboxing entrasse como esporte convidado, fazendo sua estreia como esporte oficial do programa na edição seguinte, prevista para 2021. Na verdade, acabaria que o comitê organizador escolheria apenas dois esportes convidados - o futebol americano e o speedway, ambos extremamente populares na Polônia - com o remo indoor entrando a pedido da Federação Polonesa de Remo - que, segundo boatos, teria "comprado" essa vaga com uma gorda doação aos cofres da cidade, algo que jamais foi oficialmente negado ou confirmado.

Uma das regras da IWGA prevê que, quando um esporte passa a fazer parte do programa das Olimpíadas, ele se torna inelegível para inclusão nos World Games - exceto no caso de nos World Games serem disputadas provas que não fazem parte do programa olímpico, o que é o caso da ginástica rítmica e do tiro com arco. Seguindo essa regra, 2017 deveria ser a última aparição nos World Games de dois esportes, a escalada esportiva e o caratê, que foram incluídos no programa das Olimpíadas de 2020, em Tóquio. Isso não se concretizaria, porém, porque o caratê não seria incluído no programa das Olimpíadas de 2024, em Paris, o que motivou a Federação Mundial de Caratê a pleitear sua manutenção no programa dos World Games, e porque a escalada esportiva, nas Olimpíadas, só é disputada no "combinado", com todos os atletas disputando as três modalidades e suas notas sendo somadas, e, para os World Games, são disputadas provas separadas para cada modalidade. Apesar desse clima de "saiu do programa, mas nem tanto", o presidente da IWGA, José Perurena, diria em seu discurso estar satisfeito porque os World Games estavam servindo ao propósito para o qual foram originalmente criados, o de divulgar esportes que não fazem parte do programa olímpico visando sua futura inclusão nele.

A atleta mais bem sucedida dessa edição dos World Games seria a colombiana Fabriana Arias, que ganharia nada menos que três medalhas de ouro e duas de prata na patinação em velocidade, sendo dois ouros (eliminatória 15.000 m e prova dos pontos 10.000 m) e duas pratas (sprint 500 m e sprint 1.000 m) na pista e um ouro (prova dos pontos 10.000 m) na estrada. A russa Arina Averina também ganharia três ouros, na ginástica rítmica, nas competições de bola, arco e fita, além de um bronze nas maças, mas o detalhe mais interessante seria que sua irmã, Dina Averina, seria prata na bola, arco e fita e ouro nas maças - quem se meteria entre as irmãs e ficaria com a prata nas maças seria a israelense Linoy Asram, que também foi bronze no arco; além delas três, só ganharia medalhas a bielorrussa Katsyarina Halkina, bronze na bola e na fita. Outro atleta com três medalhas de ouro seria o italiano Jacopo Musso, do salvamento, que subiu ao lugar mais alto do pódio nas provas de 100 m carregando manequim com nadadeiras, 100 m resgatando manequim com nadadeiras e Revezamento 4 x 50 m Medley.

A Polônia, país-sede, nos esportes do programa oficial conseguiria 5 ouros, 6 pratas e 9 bronzes, ficando, no quadro de medalhas, numa modesta 13a posição. Essas medalhas viriam principalmente das lutas, com os poloneses subindo ao pódio no jiu-jitsu, caratê, muay thai e sumô, além de ganhar um surpreendente ouro no rock 'n roll da dança esportiva, outro no powerlifting, e duas pratas e um bronze no salvamento; o único pódio duplo polonês viria do paramotor, onde Wojciech Bogdal e Marcin Bernat foram, respectivamente, ouro e bronze. Nos esportes convidados, entretanto, a Polônia ganharia nada menos que 4 ouros, 3 pratas e 3 bronzes, um sexto do total de medalhas em disputa; além do ouro do speedway, dado como certo já desde antes do início do torneio, os anfitriões ganhariam dois ouros no kickboxing e um no remo indoor.

O Brasil teria um desempenho pior que em 2013, ganhando um ouro a menos e somando uma medalha a menos no total, terminando na 16a posição do quadro de medalhas, com 4 ouros, 2 pratas e 2 bronzes - e sem conquistar nenhuma medalha nos esportes convidados. Os quatro ouros do Brasil viriam do powerlifting, categoria pesados, com o segundo triunfo seguido de Ana Castellain; do caratê, categoria leves, com Valéria Kumizaki, e nos torneios masculino e feminino de handebol de praia, esporte no qual, desde 2009 no masculino e desde 2005 no feminino, somente o Brasil subiu ao lugar mais alto do pódio. As pratas seriam cortesia de Noeli Dalla Corte e Ana Caroline Martins na disputa de duplas do punto, raffa, volo, do boules, e de Luciana Montgomery na categoria leves do sumô. E os bronzes seriam de Rafaela Freitas na patinação artística e de Hernâni Veríssimo na categoria leves do caratê. Não sei se alguém reparou, mas, tirando as medalhas de Hernâni e do handebol de praia masculino, todas as outras foram conquistadas por mulheres.

Eu gosto de listar os pódios dos esportes coletivos, então lá vai: no handebol de praia masculino, além do ouro do Brasil, tivemos prata para a Croácia e um surpreendente bronze para o Catar; no feminino, ouro para o Brasil, prata para a Argentina e bronze para a Espanha. No polo a canoa masculino, ouro para a Alemanha, prata para a Itália e bronze para a Espanha; no feminino, mais um ouro para a Alemanha, com prata para a França e bronze para a Itália. No punhobol, disputado apenas no masculino, o ouro seria da Alemanha, a prata da Suíça e o bronze da Áustria, com o Brasil, um dos favoritos, terminando na quarta colocação. O floorbol também seria disputado apenas no masculino, com o ouro ficando com a Suécia, a prata com a Suíça e o bronze com a Finlândia. Outro esporte disputado apenas no masculino seria o hóquei inline, no qual o ouro ficaria com a República Tcheca, a prata com a França e o bronze com a Suíça. No lacrosse, disputado apenas no feminino, o ouro seria dos Estados Unidos, a prata do Canadá, e o bronze da Austrália. No corfebol, que é misto, ouro para a Holanda, prata para Taiwan e bronze para a Bélgica - seria o nono ouro seguido da Holanda, e a primeira vez nos World Games na qual a final não seria entre Holanda e Bélgica. E, no também misto ultimate, ouro para os Estados Unidos, prata para a Colômbia e bronze para o Canadá. No único esporte coletivo convidado, o futebol americano, disputado apenas no masculino, o ouro ficaria com a França, a prata com a Alemanha e o bronze com os Estados Unidos, que enviariam um time composto inteiramente por jogadores nascidos nos Estados Unidos mas que atuavam em times da Europa - a Polônia, que esperava conseguir uma medalha, terminaria na quarta posição.

No final, as cinco primeiras posições do quadro de medalhas ficariam com países europeus, com a Rússia no topo, seguida de Alemanha, Itália, França e Ucrânia; a Colômbia conseguiria a sexta posição, fruto, sem dúvida, da preparação para a edição anterior do evento, realizada em Cali, mantida para a edição polonesa. Essa seria a edição com o maior número de medalhistas, com 63 países diferentes ganhando pelo menos uma medalha, 43 deles ganhando pelo menos um ouro - contando, é bom lembrar, apenas os esportes do programa oficial, já que os esportes convidados, além de receber medalhas menores em tamanho, não são considerados para o resultado final.

Birmingham 2022

A Birmingham mais famosa fica na Inglaterra, mas essa edição dos World Games não foi realizada lá, e sim em outra Birmigham, que fica nos Estados Unidos, no estado do Alabama, segunda cidade mais populosa do estado e onde está localizado o Barber Motorsports Park, um dos mais tradicionais autódromos do país. Birmingham foi a única cidade dos Estados Unidos que se interessou em se candidatar, e a proposta partiria não do governo, mas da administração do Museu e Hall da Fama dos Esportes do Alabama, que acreditava que o evento poderia ser benéfico para o desenvolvimento do esporte na cidade em particular e no estado como um todo. Ao ser escolhida, Birmigham venceria as cidade de Ufá, na Rússia, e Lima, capital do Peru, que planejava utilizar a mesma infra-estrutura dos Jogos Panamericanos de 2019; Barcelona, na Espanha, sede das Olimpíadas de 1992, e Santiago, capital do Chile, futura sede do pan de 2023, também chegaram a anunciar que iriam se candidatar, mas, após o último dia para confirmar suas candidaturas, ainda não tinham pagado a taxa requerida pelo IWGA, e foram retiradas da disputa.

Birmingham seria anunciada em janeiro de 2015 como sede dos World Games de 2021; como as Olimpíadas de 2020 seriam adiadas em um ano, entretanto, o IWGA decidiria também adiar os World Games, para que ambos os eventos não ocorressem no mesmo ano. Diferentemente do que fez o COI, porém, o IWGA decidiria mudar oficialmente o nome do evento para "World Games 2022" e "Birmigham 2022", adequando os cartazes, pôsteres e logomarcas. A edição seguinte está mantida para 2025, o que significa que, assim como as Olimpíadas, os World Games terão um ciclo mais curto, de apenas três anos, logo após um ciclo mais longo, de cinco.

Vale citar também que, curiosamente, a outra Birmingham, a inglesa, seria escolhida para sede dos Jogos da Commonwealth de 2022, o que faria com que esse ano tivesse dois eventos chamados "Birmingham 2022" ocorrendo quase simultaneamente, já que os Jogos da Commonwealth começariam 11 dias após o fim dos World Games.

Os World Games de Birmingham foram realizados entre 7 e 17 de julho de 2022, e contaram com a participação de 3600 atletas de 99 delegações. O programa oficial contaria com 204 provas de 37 esportes, bilhar, boliche, boules, cabo de guerra, canoagem, caratê, corfebol, dança esportiva, escalada esportiva, esportes aéreos, esqui aquático, finswimming, floorbol, frisbee, ginástica acrobática, ginástica aeróbica, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, handebol de praia, hóquei inline, jiu-jitsu, kickboxing, lacrosse, muay thai, orientação, parkour, patinação artística, patinação em velocidade, polo a canoa, powerlifting, punhobol, raquetebol, salvamento, softbol, squash, sumô e tiro com arco, mais 17 provas de cinco esportes convidados, duatlo, flag football, lacrosse, rugby em cadeira de rodas e wushu (clique aqui para ver todas as provas do programa).

Se você estranhou o fato de o lacrosse estar nas duas listas, a razão foi que, assim como já havia ocorrido em 2017, somente o lacrosse feminino faria parte do programa oficial, mas, como o lacrosse é bastante popular nos Estados Unidos, os organizadores decidiriam incluir um torneio masculino como esporte convidado - ou seja, o lacrosse feminino foi esporte do programa, o lacrosse masculino foi esporte convidado. Por decisão da World Lacrosse, a federação internacional desse esporte, a modalidade disputada em Birmingham, tanto no masculino quanto no feminino, seria a chamada sixes, que conta com seis jogadores em campo de cada vez e seis reservas - normalmente, no masculino, são dez em campo e 15 reservas, enquanto no feminino, que possui algumas regras diferentes, são 12 em campo e 18 reservas. O lacrosse seria disputado no campo da Universidade do Alabama em Birmingham.

O lacrosse também seria responsável, a pedido da World Lacrosse, pela estreia nos World Games da Haudenosaunee, uma seleção com bandeira e hino próprios, formada por jogadores e jogadoras descendentes dos índios moicanos, oneidas, onondagas, cayugas, senecas e tuscaroras, que praticavam o lacrosse "original", antes de os colonizadores chegarem à América do Norte, que participa de todos os torneios oficiais da World Lacrosse, e costuma conseguir boas colocações. A classificação para os World Games seria através dos campeonatos mundiais de lacrosse, o primeiro deles o masculino de 2018, no qual a Haudenosanee terminou na terceira posição; inicialmente, a IWGA declararia a equipe inelegível, substituindo-a pela Irlanda, mas a World Lacrosse entraria com um recurso alegando que isso seria uma injustiça, e a Haudenosanee acabaria conseguindo um convite, mais tarde se classificando também no feminino. Embora a expectativa por uma medalha fosse grande, ela não veio, com a Haudenosanee terminando em quinto no masculino e em sétimo no feminino.

Devido à punição pelo esquema de doping em 2014, a Rússia, assim como nas Olimpíadas, inicialmente iria competir como Comitê Olímpico Russo; após o início da guerra na Ucrânia, entretanto, a IWGA decidiria proibir a participação de atletas russos e bielorrussos, distribuindo as vagas que eles haviam conquistado para os colocados seguintes nos torneios de classificação - curiosamente, a Rússia havia conseguido pouquíssimas vagas para o torneio em relação aos anteriores, e, se não fosse proibida, enviaria apenas 62 atletas, enquanto Belarus enviaria apenas 11. A Ucrânia classificaria 105 atletas, que contariam com uma grande rede de apoio montada com a ajuda do Comitê Olímpico Internacional para conseguir viajar aos Estados Unidos, treinar e competir em alto nível - e que daria excelentes resultados, com os ucranianos conquistando 16 ouros, 12 pratas, 17 bronzes, e terminando em terceiro no quadro de medalhas, atrás da Alemanha e dos anfitriões norte-americanos, com quem empataram em ouros, mas perderam no número de pratas.

Assim como o COI, a IWGA está tentando trazer um público mais jovem para os World Games, o que se refletiu na entrada de três esportes da moda no programa: a corrida de drones (disputada como modalidade dos esportes aéreos), o breaking (disputado como modalidade da dança esportiva) e o parkour. O parkour teria quatro provas, sendo disputado, no masculino e no feminino, nas modalidades speedrun, na qual o objetivo é concluir o percurso no menor tempo possível, e freestyle, na qual o vencedor é escolhido não pelo tempo, mas por pontos conferidos por manobras que efetua ao longo do percurso. O parkour masculino foi dominado pelos europeus, com Ucrânia, Itália e Grã-Bretanha fazendo o pódio no speedrun, e Grécia, Suécia e Bélgica no freestyle. No feminino, o pódio foi quase igual nas duas provas: no speedrun, a sueca Miranda Tibbling ficou com o ouro, a holandesa Noa Man com a prata, e a japonesa Hikari Izumi, com o bronze; no freestyle, Izumi repetiu o bronze, mas Man ficou com o ouro e Tibbling com a prata.

Já o breaking, diferentemente das demais competições de dança esportiva, que são em pares, teve provas separadas para o masculino (B-Boys) e feminino (B-Girls); as provas do breaking ocorreram em um sistema de "confrontos", através do qual os competidores foram pareados dois a dois, com aquele que conseguisse a nota mais alta avançando e o outro sendo eliminado. Estados Unidos e Japão dominaram o pódio, com os norte-americanos fazendo ouro e prata no masculino e prata no feminino, enquanto os japoneses foram ouro e bronze no feminino e bronze no masculino. Uma curiosidade sobre o breaking é que os B-Boys e B-Girls usam apelidos ao invés de seus nomes, com o pódio do masculino sendo formado por Victor, Jeffro e Shigekix, e o do feminino por Ami, Sunny e Ayumi. O breaking fará sua estreia nas Olimpíadas em 2024, em Paris, e sua inclusão nessa edição dos World Games serviu como uma espécie de evento-teste. Tanto o parkour quanto o breaking foram disputados nas Sloss Furnaces, uma siderúrgica que operou entre 1882 e 1971, e hoje é um parque histórico para a população de Birmingham e turistas.

A corrida de drones, em teoria, era um esporte misto, mas todos os classificados eram homens; em baterias de quatro competidores cada, os pilotos deveriam guiar seus drones por um circuito montado no famoso Barber Motorsports Park, onde ocorre o GP do Alabama de Fórmula Indy. A única outra prova dos esportes aéreos foi a de pilotagem do paraquedismo, também disputada em Barber; nenhuma das duas contou com a participação de brasileiros. Outro esporte que estreou no programa foi a canoagem, com a modalidade maratona, com provas de caiaque individual nas distâncias de 3400 m (oficialmente chamada de sprint) e 21 km, no masculino e no feminino.

O flag football, que fez parte do programa dos esportes convidados, foi organizado em parceria com a NFL, e disputado no Legion Field, famoso estádio de futebol americano onde a campeoníssima Universidade do Alabama jogou entre 1927 e 2003; outro estádio de futebol americano famoso da cidade, o Protective Stadium, da UAB (Universidade do Alabama em Birmingham), sediaria as cerimônias de abertura e encerramento. Falando nos esportes convidados, uma novidade bem-vinda foi o rugby em cadeira de rodas, esporte misto que faz parte das Paralimpíadas, e primeiro esporte paralímpico a ser disputado nos World Games.

Alguns países enviariam poucos atletas, e mesmo assim conseguiriam 100% de aproveitamento; a Sérvia, por exemplo, medalharia com todos os cinco atletas que enviou, conquistando dois ouros, duas pratas e um bronze. A Argélia enviaria só um, Ayoub Anis Helassa, ouro no caratê, categoria até 60 kg; a Tunísia também enviaria só um, também para o caratê, Chehinez Jemi, bronze na categoria até 68 kg. No wushu, disputado apenas na modalidade taolu, ouro e prata para o pequenino Brunei, respectivamente com Basma Lachkar no feminino e Hosea Wong Zheng Yu no masculino, únicos dois atletas que o país enviaria, ambos na prova do taijiquan e taijijian. O Camboja também enviaria só duas atletas, do pétanque, com Ouk Sreymom conquistando o ouro nas simples e nas duplas com Un Sreya. Mas o feito mais notável seria de Gabriele Gofredo e Anna Matus, únicos dois atletas enviados pela Moldova, que se sagrariam tricampeões da dança esportiva ao conquistar sua terceira medalha de ouro seguida nas danças latinas.

No salvamento, prova do revezamento 4 x 50 m com obstáculos feminino, ocorreria um incrível empate na primeira colocação entre as equipes de Hungria e Polônia, ficando a Itália com o bronze. Dentre os multimedalhistas, Vanda Kiszli, da Hungria, ganharia as duas provas da maratona de canoagem; a alemã Nina Holt ganharia quatro ouros no salvamento, dois deles nos revezamentos, e um bronze; Simona Aebersold, da Suíça, ganharia três medalhas de ouro na orientação, no sprint, na prova de média distância e no revezamento misto; e a israelense Daria Atamanov seria ouro na bola e na fita e prata nas maças da ginástica rítmica.

Na patinação em velocidade, dois atletas ganhariam quatro ouros cada: Bart Swings, da Bélgica, subiria ao lugar mais alto do pódio nas prova dos pontos e eliminatória na pista e na estrada, além de conseguir um bronze nos 1000 m sprint da pista, e Johana Viveros, da Colômbia, seria ouro na pista nos 1000 m sprint, eliminatória e prova dos pontos, ouro na eliminatória e prata na prova dos pontos da estrada. Na prova dos 500 m sprint feminina, na pista, a alemã Laethisia Schimek subiria ao pódio sozinha, após as outras três finalistas serem desclassificadas por empurrar oponentes para fora. Todas as provas de patinação em velocidade seriam disputadas no terreno da Powell Steam Plant, originalmente uma usina termoelétrica, construída em 1895 e desativada em 2008, hoje também um marco histórico e ponto turístico da cidade, com uma pista temporária tendo sido montada no estacionamento para a realização as provas de pista.

Atenção para a ronda dos esportes coletivos: no handebol de praia masculino, ouro para a Croácia, prata para o Catar, bronze para o Brasil, e, no feminino, ouro para a Alemanha, prata para a Noruega e bronze para a Argentina. No polo a canoa masculino, ouro para a Alemanha, prata para a França e bronze para a Espanha, e, no feminino, ouro para a França, prata para a Alemanha e bronze para a Nova Zelândia. No punhobol, pódio idêntico (e quarto lugar para a Áustria) no masculino e no feminino: ouro para a Alemanha, prata para a Suíça e bronze para o Brasil. No flag football masculino, ouro para os Estados Unidos, prata para a Itália e bronze para o México, e, no feminino, ouro para o México, prata para os Estados Unidos e bronze para o Panamá. No floorbol, disputado somente no masculino, ouro para a Suécia, prata para a Finlândia e bronze para a República Tcheca. No ultimate, misto, ouro para os Estados Unidos, prata para a Austrália e bronze para a Colômbia. No hóquei inline, somente masculino, ouro para os Estados Unidos, prata para a República Tcheca e bronze para a França. No corfebol, misto, ouro para a Holanda, prata para a Bélgica e bronze para Taiwan. No lacrosse, o ouro, tanto no masculino quanto no feminino, foram para o Canadá, e a prata para os Estados Unidos, com o bronze do masculino ficando com o Japão e o do feminino com a Austrália. No softbol, disputado exclusivamente no feminino, ouro para os Estados Unidos, prata para o Japão e bronze para Taiwan. E no rugby em cadeira de rodas, misto, ouro para o Reino Unido, prata para o Japão e bronze para a Alemanha.

O Brasil enviaria 74 atletas, e teria um desempenho inferior ao das últimas edições, com dois ouros, uma prata e cinco bronzes. Além dos já citados no punhobol masculino e feminino e no handebol de praia masculino, o Brasil conquistaria bronzes no sumô masculino, acima de 115 kg, com Rui Júnior, e no wushu feminino, prova do changquan, com Michele Santos. O caratê traria duas medalhas, ouro na categoria até 67 kg com Vinícius Figueira e prata na até 60 kg com Douglas Brose. O outro ouro viria da aeróbica, duplas mistas, com Lucas Barbosa e Tamires Silva. Vale citar também a presença da equipe brasileira feminina de flag football no torneio, terminando em sétimo lugar, e que, pela primeira vez na história dos World Games, o Brasil não conseguiria se classificar para o torneio de handebol de praia feminino, no qual havia ganhado ouro nas quatro edições anteriores.

Para terminar, falta falar dos mascotes, o casal de estátuas de ferro Vulcan e Vesta. Vulcan foi inspirado na estátua do deus romano Vulcano que é o símbolo da cidade de Birmingham, construída em 1904 e considerada a maior estátua de ferro do mundo, instalada em um parque no topo da Montanha Vermelha desde 1936, e Vesta é sua esposa; ambos usam togas com o símbolo dos World Games de 2022 e faixas coloridas amarradas na cintura. Curiosamente, por mais que eu tenha procurado, não encontrei nenhuma ilustração do casal, apenas fotos de pessoas fantasiadas, o que parece ser uma tendência dos World Games - Jas e Malgosia só tinham uma única ilustração oficial, presente no programa do evento, com todas as suas outras representações sendo fotos de pessoas fantasiadas.

Série World Games

Breslávia 2017
Birmingham 2022

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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Escrito por em 30.11.15 com 0 comentários

World Games (VI)

E vamos ao (por enquanto) último post da série sobre os World Games, com as duas edições mais recentes!

Kaohsiung 2009

Sete cidades expressaram publicamente seu desejo de sediar os World Games de 2009. Kaohsiung, segunda maior cidade de Taiwan, atrás apenas da capital, Taipé, não estava entre elas. Isso porque, para garantir o direito de sediar o evento, Kaohsiung teve de empregar uma verdadeira tática de guerrilha.

Para quem não sabe, a China possui uma picuinha com Taiwan, se recusando a reconhecer a ilha como uma nação independente. Nas palavras do governo chinês, Taiwan é apenas "uma província rebelde", que se recusa a seguir as ordens vindas de Pequim. Devido a essa picuinha, a China sempre usa de suas relações diplomáticas e comerciais para prejudicar Taiwan no cenário internacional, principalmente em competições esportivas: em eventos como as Olimpíadas, a Copa do Mundo de Futebol e os World Games, por exemplo, Taiwan é proibida de competir sob seu nome oficial (República da China; a China é a República Popular da China), devendo usar "Taipé Chinês", de usar sua própria bandeira (que a China considera como sendo um símbolo separatista), e até mesmo de ouvir seu hino nacional caso seus atletas vençam provas, sendo usada uma bandeira criada e executada uma música composta especialmente para esse tipo de ocasião. Por mais que isso seja absurdo, a própria Taiwan acabou concordando com esses termos, acuada pelo medo de acabar ainda mais prejudicada pela China caso não aceitasse.

Toda vez que Taiwan tenta sediar um evento esportivo de grande porte, a China também intervém para impedir - embora o governo chinês negue, é sabido que até mesmo ameaças comerciais são feitas, tipo a China parar de importar um determinado produto de um determinado país se este votar a favor ou oferecer apoio a Taiwan. Uma das poucas vezes em que Taiwan chegou perto foi quando Kaohsiung se candidatou a sede da Universíade, a Olimpíadas dos esportes universitários, de 2005. Kaohsiung chegaria à última fase de votação, e, nas pesquisas não-oficiais, era quase certo que ela seria a vencedora. A China, porém, usaria sua influência para que muitos dos delegados mudassem seus votos, e a Universíade acabaria ficando com a cidade de Izmir, na Turquia.

O prefeito de Kaohsiung, Frank Hsieh, porém, decidiria não deixar barato. Desde a primeira edição, Taiwan era um dos países que davam mais importância aos World Games, e ele já sabia que, algum tempo depois da escolha da sede da Universíade de 2005, começaria o processo para a escolha da sede dos World Games de 2009. Determinado a conseguir o evento, Hsieh criaria um comitê que trabalharia no mais alto sigilo, para garantir que Kaohsiung fosse a vencedora antes mesmo de a China perceber o que estava acontecendo. O trabalho desse comitê começaria ainda em 2002, dois anos antes de se iniciar o processo da escolha de sede de 2009, quando o Comitê Nacional para Preparo Físico e Esportes de Taiwan convidaria o presidente da IWGA, Ron Frohlich, para uma visita ao país, sob a desculpa de mostrar as instalações de treinamento que faziam com que os atletas de Taiwan fossem tão bem sucedidos nos World Games. Em meio à visita, Frohlich assistiria a uma apresentação surpresa sobre a cidade de Kaohsiung, e sobre a possibilidade de que ela se candidatasse a sede para 2009. A Secretária de Esportes de Taiwan, Lin Lin, manifestaria esse desejo a Frohlich, mas pediria para que ele guardasse segredo.

Em novembro de 2003, aconteceria o contrário: uma delegação de seis pessoas, representando a prefeitura de Kaohsiung, o Comitê Olímpico Taiwanês e o Comitê Nacional para Preparo Físico e Esportes, visitaria a Europa, para se encontrar com os delegados da IWGA e fazer a apresentação oficial da candidatura de Kaohsiung. A cidade assinaria o contrato para sediar os World Games de 2009 em junho de 2004, mas a notícia seria mantida em segredo até a cerimônia de encerramento dos World Games de 2005, quando o então prefeito de Kaohsiung, Chen Chi-mai, receberia a bandeira dos World Games das mãos do prefeito de Duisburgo, e Frohlich faria o anúncio oficial de que Kaohsiung seria a próxima sede. A China, evidentemente, protestou, mas aí já era tarde para tomar qualquer providência.

Uma das principais preocupações da IWGA em relação a Kaohsiung sediar os World Games estava no idioma, já que, embora o idioma oficial de Taiwan seja o mandarim, principal dialeto chinês, a maior parte da população fala outro dialeto, o hokkien, mas os delegados que visitariam a cidade para ratificar a escolha acabariam descobrindo que a maior parte da população jovem do país fala bem o inglês - de fato, o comitê organizador conseguiria recrutar quase meio milhão de voluntários para agir como intérpretes não somente para os atletas, mas também para os visitantes. Entusiasmados, simpáticos e solícitos - e, para muitos dos visitantes, uma surpresa - esses voluntários acabariam se tornando uma das principais atrações dos World Games de 2009, e frequentemente seriam citados como uma das principais razões para o sucesso do evento.

O logotipo do evento representava o primeiro ideograma do nome da cidade escrito em chinês tradicional, gao, que significa "elevado" ou "superior" em mandarim; ao invés de desenhado com traços, esse ideograma foi construído com uma fita colorida, para simbolizar o esporte, o movimento e a alegria. Assim como Akita, Kaohsiung teve um casal de mascotes, os gêmeos Gao Mei e Syong Ge; embora sejam quase idênticos, eles representam, respectivamente, uma labareda e uma gota d'água, e simbolizam o apelido de Kaohsiung, "cidade do sol e do mar". O nome dos mascotes, aliás, une as duas sílabas do nome da cidade em mandarim (gao e syong) às palavras sol (mei) e mar (ge).

Um fato curioso sobre essa edição dos World Games seria que Kaohsiung conseguiria burlar a regra do IWGA que proíbe a construção de instalações apenas para o evento: as duas principais instalações esportivas utilizadas, o Estádio Nacional e a Arena Kaohsiung, foram planejados para a Universíade, mas, quando a cidade não conseguiu garantir o direito de sediá-la, suas obras foram suspensas; ambos acabariam concluídos e inaugurados apenas para os World Games, o que fez com que se tornassem as instalações mais modernas da história do evento. Algo semelhante ocorreu com um novo sistema de transporte, o MRT (da sigla em inglês para Transporte Rápido de Massa), evidentemente construído especialmente para os World Games, já que interligava todos os locais de competição, mas que, oficialmente, já estava planejado pela cidade, e, nas palavras do prefeito, seria construído mesmo que a cidade não sediasse o evento.

O Estádio Nacional, palco das cerimônias de abertura e encerramento, além das competições de rugby e ultimate, é um dos mais modernos do mundo, com capacidade para 55 mil pessoas, uma cobertura em formato de dragão, e totalmente adaptado para colher e utilizar energia solar, o que faz com que seu impacto ambiental e econômico seja mínimo. A Arena Kaohsiung, palco da ginástica e da dança de salão, também não fica atrás, com um belo formato arquitetônico - que lhe valeu o apelido de "Grande Ovo" - e arquibancadas para 15 mil pessoas totalmente acessíveis para deficientes físicos. Todos os demais locais de competição já existiam e foram, no máximo, reformados, incluindo o ginásio da Universidade Nacional, usado para o corfebol e o tchoukbol; o ginásio da Universidade Sun Yat-sen, usado para o jiu-jitsu, o caratê e o cabo de guerra; o estádio da Universidade I-Shou, usado para a patinação; e o Estádio de Chung Cheng, usado para o bilhar, raquetebol, squash e punhobol.

Os World Games de 2009 seriam realizados entre 16 e 26 de julho, e contariam com a presença de 3.100 atletas de 105 nações. Embora muitos temessem que a China boicotasse o evento, ela participou, enviando 148 atletas, que não participariam, porém, das cerimônias de abertura e de encerramento. Na abertura, cujo desfile das delegações contou apenas com uma voluntária levando a bandeira chinesa, o motivo oficial apresentado pelo governo chinês foi a presença de Ying-Jeou Ma, presidente de Taiwan, a quem Pequim não reconhece como Chefe de Estado; no encerramento, a desculpa foi que os atletas precisaram retornar à China para reiniciar seus treinamentos. A prefeita de Kaohsiung, Chen Chu, lamentou a ausência dos chineses na abertura, e declarou em seu discurso que "um grande país deveria mostrar mais tolerância".

O programa contaria com 164 provas de 32 esportes: bilhar, boliche, boules, cabo de guerra, caratê, corfebol, dança esportiva, escalada esportiva, esportes aéreos, esqui aquático, finswimming, fisiculturismo, frisbee, ginástica acrobática, ginástica aeróbica, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, hóquei inline, jiu-jitsu, orientação, patinação artística, patinação em velocidade, polo a canoa, powerlifting, punhobol, raquetebol, rugby sevens, salvamento, squash, sumô e tiro com arco. Os esportes convidados foram cinco: corrida de barcos-dragão, handebol de praia, softbol, tchoukbol e wushu (clique aqui para ver todas as provas do programa).

O Brasil conseguiria uma excelente participação, terminando com três ouros, três pratas e três bronzes. As medalhas de ouro incluiriam o primeiro ouro em um esporte coletivo, no punhobol, e o primeiro ouro individual conquistado por uma mulher, com Marcela Lopez na aeróbica, além de um merecido ouro para o principal atleta do caratê brasileiro, Douglas Santos Brose, categoria leves. As pratas viriam uma do boules, nas duplas femininas da modalidade punto, raffa, volo, com Noeli Dalla Corte e Ingrid Fulcher, e duas do fisiculturismo, com Luiz Carlos Sarmento na categoria leves e Diana Almeida na categoria fitness. Os bronzes viriam com Marat Leiras na categoria pilotagem do paraquedismo, Marcel Sturmer na patinação artística, e Milton Schmitz e Rafael Vanz Borges nas duplas masculinas do punto, raffa, volo. Além dessas medalhas todas, o Brasil ainda seria ouro no handebol de praia masculino e bronze no feminino, mas, lembrando, medalhas de esportes convidados não contam para o quadro.

O topo do quadro de medalhas ficaria com a Rússia, com 18 de ouro, 14 de prata e 15 de bronze, seguida de perto pela Itália, com 16 ouros, 12 pratas e 13 bronzes, e por uma surpreendente China, 14 ouros, 10 pratas e 5 bronzes. Todos esses três países se destacariam no finswimming, travando uma luta pódio a pódio, mas a Rússia reinaria soberana na ginástica, com nada menos que nove ouros, incluindo quatro de Eugenia Kanaeva, campeã em todos os quatro aparelhos da ginástica rítmica - bola, maça, fita e corda.

Taiwan, a anfitriã, teria como maior destaque a patinadora Yu-Ting Huang, três ouros na patinação em velocidade, no sprint de 500 e 1.000 m e no contra o relógio 300 m. Ao todo, Taiwan conquistaria 8 ouros, 9 pratas e 7 bronzes, com os outros ouros vindo da patinação em velocidade, 300 m contra o relógio masculino (Wei-Lin Lo); do powerlifting, categoria leves masculino (Tsung-Ting Hsieh) e feminino (Wei-Ling Chen); do caratê, categoria pesados masculino (Hao-Yun Huang); e do cabo de guerra feminino. Taiwan também se sairia muito bem nos esportes convidados: no tchoukbol, extremamente popular naquele país, Taiwan conquistaria os dois ouros (masculino e feminino), ficando as duas pratas com a Suíça, o bronze do masculino com Cingapura e o do feminino com o Canadá. No softbol, disputado apenas no feminino, Taiwan ficaria com a prata, ficando o ouro com o Japão e o bronze com a Coreia do Sul. No wushu, os taiwaneses terminariam com um ouro (Peng-Wei Chua, nanquan e nandao masculino), três pratas (Chen-Shao Chi, jianshu e qiangshu feminino; Fan-Man Yun, taijiquan e taijijian masculino; e Chou-Ting Yuan, sanshou masculino, categoria médios) e um bronze (Kao-Yu Chuan, sanshou feminino, categoria pesados). E, nos barcos-dragão, Taiwan terminaria com uma prata nos 2.000 m e um bronze nos 200 m - a grande campeã seria a Rússia, que conquistaria o ouro nas quatro corridas.

O punhobol, além do ouro do Brasil, teria prata da Suíça e bronze da Áustria. No corfebol, mais um ouro para a Holanda, mais uma prata para a Bélgica, e bronze para Taiwan. No rugby sevens, mais um ouro para Fiji, uma surpreendente prata para Portugal, e bronze para a África do Sul. No pólo a canoa masculino, ouro para a França, prata para a Holanda e bronze para a Austrália; no feminino, ouro para o Reino Unido, prata para a Alemanha e bronze para a França. No ultimate, ouro para os Estados Unidos, prata para o Japão e bronze para a Austrália. No handebol de praia masculino, ouro para o Brasil, prata para a Hungria e bronze para a Croácia; no feminino, ouro para a Itália, prata para a Croácia e bronze para o Brasil. E, no hóquei inline, ouro para os Estados Unidos, prata para a França e bronze para a República Tcheca.

No fim, os World Games de Kaohsiung seriam um grande sucesso, sendo considerados, até hoje, como os melhores de todos os tempos. Só quem não ficou muito satisfeito, apesar de todas as medalhas que ganhou, foi a China, já que, além de agora estar provado que Taiwan tem condições de realizar um evento esportivo de grande porte, parece que muitos países perderam o medo de votar a seu favor: em 2011, Taipé, a capital taiwanesa, mesmo com todos os protestos chineses de praxe, foi escolhida para sede da Universíade de 2017 - curiosamente, derrotando Brasília na última rodada de votações.

Cali 2013

Nos quatro anos entre a escolha da sede de 2009 e o início do processo para escolha da sede de 2013, nada menos que 22 cidades de quatro continentes chegaram a expressar, de alguma forma, o desejo de sediar a competição - incluindo duas que já haviam sido sedes olímpicas, Barcelona e Moscou. Nem todas, entretanto, levaram o projeto adiante: na "hora do vamos ver", quando a IWGA abriu as inscrições, apenas três cidades efetivamente se candidatariam - ou melhor, quatro, já que, além de Pretória, na África do Sul, e de Cali, na Colômbia, havia uma candidatura conjunta das cidades de Duisburgo e Düsseldorf, na Alemanha.

Duisburgo, para quem não lembra ou não leu os posts anteriores dessa série, havia sido sede dos World Games de 2005. Na ocasião, o comitê organizador planejava usar também algumas instalações esportivas de Düsseldorf, mas a IWGA vetou. Como o retorno financeiro dos World Games para a cidade foi fantástico - e como o título de "melhores World Games de todos os tempos", anteriormente conferido a Duisburgo, havia sido "tomado" por Kaohsiung quatro anos depois - o prefeito de Duisburgo se apressou a candidatar a cidade novamente o quanto antes, dessa vez convencendo Düsseldorf a entrar junto, para que as tais instalações esportivas fossem usadas. Como a IWGA também havia ficado extremamente satisfeita com os World Games de 2005, e como o projeto de Duisburgo e Düsseldorf era realmente o melhor, em março de 2008 a IWGA anunciaria que as cidades alemãs foram escolhidas para sediar os World Games de 2013, dando a Duisburgo a chance de ser a primeira cidade a sediar duas edições do evento, com apenas oito anos entre uma e outra.

Isso, porém, jamais chegaria a se concretizar. Ainda em 2008, já com um novo prefeito, e colocando a culpa na crise financeira que se abateu sobre a Europa naquele ano, Duisburgo desistiria de sediar os World Games, comunicando sua decisão à IWGA. Düsseldorf poderia ter seguido em frente como sede única, mas, incapaz de assegurar os patrocínios necessários para a realização do evento, também decidiu desistir. Pretória e Cali, então, se reapresentaram, se dizendo ainda dispostas a sediar o evento caso a IWGA concordasse, e São Petersburgo, na Rússia, decidiu entrar na disputa. A IWGA, então, realizaria uma reunião extraordinária para a escolha da nova sede, na qual, após três rodadas de votação, seria vitoriosa a cidade colombiana, que seria oficialmente anunciada como sede de 2013 na abertura dos World Games de 2009.

Como já era de praxe, a população de Santiago de Cali - nome completo da cidade - ficaria empolgadíssima com a realização do evento, tanto que todas as competições teriam lotação máxima ou próxima da máxima, até mesmo aquelas as quais o povo colombiano não estava acostumado a acompanhar - e as que eram realmente populares, como a competição de salsa da dança esportiva, atrairiam tanto público que seus ingressos se esgotariam com meses de antecedência, e milhares de pessoas se amontoariam do lado de fora no dia, ainda tentando conseguir uma forma de entrar. Cali também já havia sido sede dos Jogos Panamericanos de 1971, e estava acostumada a receber competições esportivas de atletismo, ciclismo e futebol, de forma que a cidade já possuía a experiência necessária para a organização de um evento desse porte. Mesmo com esses dois fatores, porém, os World Games de 2013 teriam muitos problemas. Cali é uma cidade enorme - terceira maior da Colômbia, atrás de Bogotá e Medellín, e bem maior que Barranquilla, a quarta colocada - de forma que os locais de competição ficavam muito longe uns dos outros. Além disso, alguns locais de competição sequer ficavam em Cali, mas nos municípios vizinhos de Buga e Jamundí; como não havia um sistema de transporte eficiente como o de Kaohsiung, alguns espectadores - e até mesmo alguns atletas - levariam mais de uma hora para se locomover de um local de competições para o outro. Além disso, Cali fica a mil metros de altitude, o que influenciou algumas competições, e, durante todo o período do evento, fez um forte calor, com o qual a maioria dos atletas não estava acostumada - em alguns dias o sol era tão forte que o público nem conseguia se sentar nas arquibancadas dos locais de competição abertos, de tão quentes que elas ficavam. Por causa disso, muitos dos eventos programados para o dia tiveram de ser reprogramados para a noite, quando o clima era mais fresco e agradável, mas, para algumas competições, como a de paraquedismo, não houve jeito.

Outro problema bizarro em Cali ocorreu com as medalhas: sem que ninguém percebesse, ao invés de World Games, estava escrito nelas "Word Games" (os "jogos de palavras", em inglês). Curiosamente, o design das medalhas passaria por várias inspeções e aprovações sem que ninguém percebesse o erro, só notando-o quando todas já estavam prontas e era tarde demais. Alguns atletas, ainda no pódio, ao perceberem, começavam a rir. A empresa responsável pelas medalhas disse que não poderia se responsabilizar, já que o comitê organizador havia assinado um contrato segundo o qual "qualquer erro encontrado após a aprovação do cliente será de responsabilidade deste, e não da empresa". O canal de TV Noticias Uno deu grande destaque ao caso, mas o prefeito de Cali, Rodrigo Guerrero, considerou que estava sendo feita uma tempestade em copo d'água, e que o erro de maneira alguma diminuía o valor ou a importância das medalhas.

Para completar as pataquadas, os responsáveis simplesmente se esqueceram de criar um poster para o evento. Criaram um logotipo, é verdade, no mesmo estilo do de Kaohsiung, com uma fita colorida formando a letra C (de Cali e Colômbia) e a silhueta de um sapo saltando, pois o tema escolhido para esses World Games era a preservação da natureza, e seu slogan era "jogue limpo com o planeta". Até a abertura do evento, entretanto, ainda não havia um poster oficial, de forma que esse logotipo acabaria combinado ao slogan e ao nome da cidade para criar um. O mascote de 2013 foi um bem-te-vi, conhecido por lá como bichofué; talvez em mais uma escorregada, ele não tinha nome, e acabou conhecido apenas como Bichofué mesmo.

Apesar de todas essas lambanças, os World Games de 2013 estiveram longe de ser um fracasso. Apesar do calor, os atletas adoraram o "clima latino" que permeou todas as competições, e a já citada grande presença do público contribuiu para chamar a atenção sobre o evento, até então pouco conhecido na América do Sul. A cerimônia de abertura, realizada no Estadio Olímpico Pascual Guerrero, onde o América de Cali joga suas partidas, contou com 40 mil espectadores, e foi uma das mais animadas dos World Games. Também estariam presentes o vice-presidente da Colômbia, Angelino Grazón, e o presidente do COI, Jacques Rogge, que fez um discurso enaltecendo o evento e a animação da cidade em recebê-lo. O canal de TV público colombiano Señal Colombia seria o responsável por televisionar as competições, negociando-as com a ESPN e com a Fox Sports, que, por sua vez, fariam com que as transmissões, ao vivo, em VT ou na forma de programas "o melhor do dia", chegassem a mais de cem países, um recorde para o evento.

Os World Games de 2013 seriam realizados entre 25 de julho e 4 de agosto, e contariam com a presença de 2.870 atletas de 103 nações, disputando 164 provas de 31 esportes: bilhar, boliche, boules, cabo de guerra, caratê, corfebol, dança esportiva, escalada esportiva, esportes aéreos, esqui aquático, finswimming, frisbee, ginástica acrobática, ginástica aeróbica, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, handebol de praia, hóquei inline, jiu-jitsu, orientação, patinação artística, patinação em velocidade, polo a canoa, powerlifting, punhobol, raquetebol, rugby sevens, salvamento, squash, sumô e tiro com arco. Os esportes convidados seriam canoagem, duatlo, futebol de salão, patinação em velocidade, softbol e wushu (clique aqui para ver todas as provas do programa).

O fisiculturismo, cuja federação internacional fora suspensa pela IWGA em 2010, já que não concordava com as novas políticas da entidade para os exames anti-doping, ficaria pela primeira vez de fora do programa; em compensação, o handebol de praia, após três aparições como esporte convidado, finalmente entraria para o programa principal. E o rugby sevens faria sua última participação nos World Games, já que, tendo sido incluído no programa das Olimpíadas para a partir de 2016, se tornou automaticamente inelegível para o evento da IWGA.

Os esportes convidados teriam dois "repetidos", o softbol e o wushu, e muitas novidades: no caso da patinação em velocidade, até 2013 apenas as provas de pista eram disputadas nos World Games; nessa edição, as provas de estrada estreariam, mas como parte dos esportes convidados, permanecendo as de pista no programa principal. Já no caso da canoagem, ao invés da corrida de barcos-dragão, seria disputada como esporte convidado a modalidade maratona, que conta com provas de 20 km, com um total de seis provas (canoa individual masculina, canoa duplas masculinas, caiaque individual masculino, caiaque duplas masculinas, caiaque individual feminino e caiaque duplas femininas). O futebol de salão seria o "original", usando as regras da AMF (Associação Mundial de Futebol de Salão) e não as da FIFA (que usa o nome futsal em seus torneios). Completaria a lista dos esportes convidados o duatlo, regulado pela Federação Internacional de Triatlo (ITU) e composto por três partes, uma de corrida, uma de ciclismo e outra de corrida, sendo, portanto, basicamente, um triatlo sem natação. A organização ainda tentaria incluir o frontón internacional, o kudô e o hapkidô como esportes convidados, mas não chegaria a um consenso com as federações desses esportes; competições de todos os três, porém, seriam realizadas em Buga e Jamundí simultaneamente aos World Games, mas com todos os atletas participantes sendo colombianos.

Nos esportes coletivos, o punhobol teria ouro para a Alemanha, prata para a Suíça e bronze para a Áustria, com o Brasil decepcionando e terminando em quarto lugar, ficando fora do pódio pela primeira vez desde 1993. No corfebol, nenhuma surpresa: ouro para a Holanda, prata para a Bélgica e bronze para Taiwan. No rugby sevens, ouro para a África do Sul, prata para a Argentina e bronze para o Canadá. No pólo a canoa masculino, ouro para a Alemanha, prata para a França e bronze para a Itália; e, no feminino, ouro para a Alemanha, prata para o Reino Unido e bronze para a França. No handebol de praia masculino, o ouro foi do Brasil, a prata da Rússia e o bronze da Croácia; no feminino, mais um ouro para o Brasil, prata para a Hungria e bronze para a Noruega. No hóquei inline, ouro para os Estados Unidos, prata para a Itália e bronze para a República Tcheca. No ultimate, ouro para os Estados Unidos, prata para a Austrália e bronze para o Canadá. No softbol, no qual todas as equipes participantes eram das Américas, o ouro ficou com Cuba, a prata com a Venezuela e o bronze com a Colômbia. E, no futebol de salão, o ouro ficou com a Colômbia, a prata com a Venezuela e o bronze com o Brasil.

O topo do quadro de medalhas ficaria com a Itália, que superaria a Rússia por apenas um ouro: 18 ouros, 13 pratas e 18 bronzes dos italianos contra 17 ouros, 23 pratas e 13 bronzes dos russos. Mais uma vez, a Itália se destacaria no salvamento, onde conquistaria 5 ouros, 7 pratas e 5 bronzes, mas dessa vez teria uma excelente performance também na patinação, arrebatando 5 ouros, 2 pratas e 2 bronzes, incluindo ouro no individual feminino da patinação artística com Debora Sbei, bronze no individual masculino com Andrea Aracu, ouro (com Alessandro Spigai e Anna Remondini) e prata (com Filippo Forni e Elena Leoni) na categoria dança, e ouro (com Danilo Decembrini e Sara Venerucci) e bronze (com Daniele Ragazzi e Giulia Merli) nas duplas mistas. A Rússia mais uma vez se destacaria no finswimming e na ginástica, mas dessa vez não conseguiria os quatro ouros da ginástica rítmica, ficando os do arco e fita para Ganna Rizatdnova, da Ucrânia, e os do bola e maça para Melitina Staniouta, da Bulgária; a única medalha russa na ginástica rítmica seria um bronze de Elizaveta Nazarenkova no arco.

A Colômbia se aproveitaria do fator casa para realizar sua melhor participação na história dos World Games, com 8 ouros, 13 pratas e 10 bronzes; a mais comemorada seria a medalha de ouro na categoria salsa da dança esportiva, incluída especialmente para essa edição, com Jefferson Benjumea Merolanda e Adriana Avila Molina. Na categoria latina, porém, na qual a Colômbia também era favorita, a dupla colombiana terminaria em quarto lugar, ficando o ouro com a Moldova, a prata com a Rússia e o bronze com a França. O raquetebol, esporte bastante popular na Colômbia, também decepcionaria, rendendo apenas uma medalha de prata, com Christina Amaya, nas simples femininas. As outras medalhas de ouro da Colômbia viriam quatro do caratê e três da patinação em velocidade.

O Brasil também faria sua melhor participação na história dos World Games, com 5 ouros, 3 pratas e 1 bronze. Subiriam ao lugar mais alto do pódio Marcel Stürmer, na patinação artística; Bruno Martini, na ginástica de trampolim, prova do mini duplo; Ana Castellain, na categoria pesados do powerlifting; e as seleções de handebol de praia masculina e feminina. As pratas seriam trazidas por Douglas Santos Brose, categoria leves do caratê; Luciana Montgomery Watanabe, categoria leves do sumô; e Janaína Silva, categoria aberta do sumô. O bronze viria com Noeli Dalla Corte e Ingrid Fulcher, nas duplas femininas da modalidade punto, raffa, volo, do boules. Além dessas medalhas todas, o Brasil ainda ganhou duas das que "não contam", o bronze no futebol de salão e uma prata no wushu, modalidade nanquan e nangun, com Marcelo Yamada.

No fim, a Colômbia mostrou que, mesmo sem tradição nos esportes do programa, e com as deslizadas da organização aqui e ali, é possível organizar uma edição empolgante dos World Games, inclusive fazendo bonito nas competições. Fica a esperança de que alguma cidade brasileira, um dia, se aventure a se candidatar a sede, nem que seja para mostrar ao público que existem brasileiros se destacando em esportes menos conhecidos - e mais exóticos - que os olímpicos.

Série World Games

Kaohsiung 2009
Cali 2013

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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Escrito por em 9.11.15 com 0 comentários

World Games (V)

E vamos a mais duas edições dos World Games!

Akita 2001

Localizada no extremo norte da ilha de Honshu, a principal do Japão, com pouco mais de 300 mil habitantes, e sede de um tradicional festival esportivo cujo ponto alto é uma corrida de homens equilibrando em seus queixos varetas de 15 metros de comprimento com lanternas no topo, a cidade de Akita entrou em contato com a IWGA, manifestando seu desejo de ser sede de uma futura edição dos World Games, já em 1994. Após alguma preparação, ela se candidataria oficialmente em 1996. Como seria candidata única, o "processo de escolha" se resumiria a uma visita dos delegados da IWGA, para checar se tudo estava dentro do exigido para a realização do evento.

A principal preocupação dos delegados, que levaram um certo tempo antes de anunciar oficialmente Akita como sede, estava no idioma, já que poucos japoneses falam inglês, e menos gente ainda fora do Japão fala japonês. Quando soube disso, a Prefeitura de Akita se comprometeu a utilizar um total de mil pessoas, dentre profissionais contratados e voluntários, para funcionar como intérpretes, atendendo a atletas, jornalistas, dirigentes e espectadores, durante toda a duração do evento. Além disso, a Prefeitura se comprometeu a hospedar todos os atletas em hotéis da cidade, sempre perto dos locais onde eles iriam competir. O empenho dos japoneses era tão grande que até mesmo o Comitê Olímpico Japonês se envolveu na organização, na primeira vez em que um Comitê Olímpico nacional participaria diretamente de uma edição dos World Games. Com toda essa boa vontade, e como as instalações esportivas eram de alto nível, os delegados da IWGA não tiveram como negar a Akita a realização dos primeiros World Games na Ásia.

Os japoneses realmente ficaram empolgadíssimos com a realização do evento: assim como ocorrera em Karlsruhe, a Prefeitura de Akita organizaria um concurso nas escolas das cidades, com as crianças podendo fazer desenhos que representassem os esportes do programa; os melhores foram transformados em pôsteres, espalhados pela cidade durante o período do evento, enquanto os demais foram arrumados por uma equipe na forma de um globo, que enfeitou a praça principal da cidade - que, durante o evento, ficaria conhecida como World Games Plaza. Nessa mesma praça, durante toda a duração dos World Games, seriam realizados espetáculos de música e dança, montadas barraquinhas que vendiam comidas típicas e lembranças do evento, e haveria um grande espaço no qual os atletas poderiam se confraternizar uns com os outros e com os moradores da cidade.

O logotipo do evento, criado por uma equipe de designers, tinha um A de Akita, um W de World Games e um globo estilizado que, devido a seu posicionamento, lembravam um pictograma, imagem fortemente associada a torneios esportivos. Essa mesma equipe criaria uma versão especial do poster do evento cujo fundo, ao invés de ser todo branco, trazia uma fotomontagem composta por fotos de 12 crianças escolhidas nas escolas da cidade, dispostas de forma a montar um único rosto. Essa equipe de designers também criaria os mascotes dos World Games de 2001: Huggy e Nummy, que tinham formato de ovo e lembravam os habitantes pré-históricos da região de Akita. Como bons mascotes, Huggy e Nummy podiam ser encontrados na forma de pins e de bichos de pelúcia, e praticavam todos os esportes do programa em ilustrações bastante divertidas.

A transmissão do evento ficaria por conta da NHK, principal emissora de TV do Japão, que transmitiria muitas das provas ao vivo para todo o país e para grande parte do Sudeste Asiático. Através de sua subsidiária NHK World, essas transmissões também chegariam ao vivo a diversos outros países, assim como através de contratos firmados entre a NHK e emissoras como a ESPN, que permitia a exibição de eventos ao vivo, em VT ou em programas ao estilo "o melhor do dia".

A Cerimônia de Abertura seria realizada no Estádio Yabase, construído em 1941 para ser um estádio de atletismo, e reformado em 1961 para acomodar também o futebol, sendo hoje a casa do Blaublitz Akita, da terceira divisão da J-League, o campeonato de futebol do Japão. Considerada a mais bela dos World Games até então, a cerimônia contaria com demonstrações de música e dança típicas e com um show de fogos de artifício, além de uma demonstração do tal esporte de carregar lanternas em varetas. Infelizmente, a edição de 2001 dos World Games não contaria com a presença do Primeiro-Ministro japonês (muito menos do Imperador), nem com a de um representante do COI, sendo os jogos abertos por Atsuko Toyama, Ministra da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia - em uma nota não relacionada, isso talvez prove que, ou o Brasil tem Ministérios demais, ou o Japão tem Ministérios de menos.

Além do Estádio Yabase, que tem capacidade para 20 mil espectadores, foram utilizados como locais de competição o Yuwa Skydome, moderno estádio fechado com capacidade para dez mil espectadores; o belíssimo Parque Senshu, onde fica localizado o Castelo Kubota, lar do Shogun local durante o período feudal japonês; e o Ginásio Municipal - que, na verdade são dois, um maior, com capacidade para seis mil espectadores e do tamanho de duas quadras de basquete, e um menor, para dois mil espectadores e tamanho de uma quadra de vôlei. Até mesmo os atletas ficariam impressionados com a qualidade das instalações, todas consideradas de altíssimo nível. Também impressionaria o interesse dos japoneses pelas competições, com a venda de ingressos superando todas as expectativas, e muitas competições ocorrendo com lotação máxima.

Os World Games de 2001 seriam realizados entre 16 e 26 de agosto, e contaram com a participação de 3.200 atletas representando 93 nações em 137 provas de 27 esportes: bilhar, boliche, boules, cabo de guerra, caratê, corfebol, dança esportiva, esportes aéreos, esqui aquático, finswimming, fisiculturismo, frisbee, ginástica acrobática, ginástica aeróbica, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, hóquei sobre patins, jiu-jitsu, orientação, patinação artística, patinação em velocidade, pesca esportiva, powerlifting, punhobol, rugby sevens, salvamento e tiro com arco; mais aikidô, cabo de guerra (indoor feminino), gatebol, handebol de praia e sumô como esportes convidados (clique aqui para ver todas as provas do programa).

Como vocês devem ter notado, o programa contaria com a estreia de vários esportes, dentre eles o bilhar, nome genérico usado pela IWGA para se referir a três esportes: o nine-ball, a carambola three-cushion e a sinuca inglesa. Em Akita, apenas o nine-ball seria disputado no masculino e no feminino (com Ching Shun Yang, de Taiwan, levando o ouro no masculino, e Jeanette Lee, dos Estados Unidos, no feminino), com a carambola (ouro para Daniel Sanchez, da Espanha) e a sinuca (ouro para Bjorn Haneveer, da Bélgica) sendo disputadas apenas no masculino.

Os World Games de 2001 também seriam os primeiros a contar com um torneio de orientação, que contou com as provas individual masculina (ouro para Grant Bluett, da Austrália), individual feminina (ouro para Hanne Staff, da Noruega) e revezamento por equipes (ouro para a Noruega, prata para a Lituânia e bronze para a Suécia). Outro esporte a estrear em 2001 seria o rugby, na modalidade sevens, na qual cada time tem apenas sete jogadores e o jogo dura dois tempos de sete minutos cada - o que permite que todos os jogos da competição sejam disputados em um único dia. O rugby sevens será a modalidade que estreará nas Olimpíadas de 2016, no masculino e no feminino; em Akita, ele seria disputado apenas no masculino, e o pódio foi todo da Oceania, com o ouro ficando com Fiji, a prata com a Austrália e o bronze com a Nova Zelândia.

Também faria sua estreia em Akita o frisbee, com competições de disc golf (dois ouros para os Estados Unidos, Barry Schultz no masculino e Juliana Korver no feminino) e de ultimate, esporte coletivo disputado em um gramado de 64 por 37 metros no qual dois times mistos de sete jogadores cada tentam fazer com que um frisbee ultrapasse a linha de fundo para marcar pontos, sendo proibido qualquer contato físico e com o jogador que tem o frisbee nas mãos não podendo andar. Em Akita, o ouro do ultimate ficaria com o Canadá, a prata com os Estados Unidos e o bronze com o Japão; curiosamente, a edição de 2001 seria a última na qual o disc golf participaria (após ser esporte convidado em 1989), com apenas o ultimate fazendo parte do programa de 2005 em diante.

O boules contaria com novidades no programa: além das provas de pétanque (disputadas nas categorias trios masculinos e duplas femininas), agora as provas de jeu provençal (tiro progressivo masculino e feminino) também fariam parte do programa oficial. Já o cabo de guerra teria uma modificação em suas modalidades: ao invés de duas provas masculinas ao ar livre, o programa contaria com uma prova ao ar livre, com peso máximo somado das equipes de 680 kg, e uma prova indoor, com peso máximo de 600 kg. Ambas essas provas seriam masculinas; as prova femininas também seriam duas, mas ambas indoor, com peso máximo de 480 kg e 520 kg, e continuariam sendo consideradas esportes convidados.

O hóquei sobre patins, por outro lado, faria sua última participação nos World Games, sendo substituído, a partir de 2005, pelo hóquei inline - que usa patins inline ao invés daqueles com quatro rodinhas, e tem regras bastante parecidas com as do hóquei no gelo. A decisão de trocar um pelo outro foi da Federação Internacional de Esportes sobre Rodas (FIRS), que regula ambos, e planejava popularizar o hóquei inline, sendo uma das razões a de que a Federação Internacional de Hóquei no Gelo (IIHF) também havia decidido regular o hóquei inline. No início, a maioria dos países optou por ser membro da IIHF e disputar seus campeonatos, mas hoje o jogo virou, e é a FIRS quem tem mais membros e o campeonato mais prestigiado do hóquei inline - e, obviamente, a FIRS credita parte desse sucesso à inclusão do esporte nos World Games.

No último torneio do hóquei sobre patins, o Brasil conseguiria uma medalha de prata, com Portugal ficando com o ouro e a Alemanha com o bronze. O Brasil também seria prata no punhobol, ficando o ouro com a Áustria e o bronze, novamente, com a Alemanha. No handebol de praia, o Brasil conseguiria dois bronzes, com, no masculino, o ouro ficando com Belarus e a prata com a Espanha, e, no feminino, ouro para a Ucrânia e prata para a Alemanha. Fechando os esportes coletivos, no gatebol o pódio seria todo do extremo oriente, com o ouro ficando com o Japão, a prata com Taiwan e o bronze com a China (e o quarto lugar com a Coreia do Sul); e o resultado do corfebol não foi nenhuma surpresa, com ouro para a Holanda, prata para a Bélgica e bronze para Taiwan.

O francês Patrice Martin, do esqui aquático, encerraria sua participação em World Games com mais uma medalha de prata, dessa vez na categoria overall. O norte-americano Steve Rajeff também voltaria a subir ao pódio com uma prata, na pesca esportiva. E a atleta mais bem sucedida de 2001 seria uma russa, Irina Tchatchina, que levaria para casa todos os quatro ouros da ginástica rítmica - que, nos World Games, premia individualmente as apresentações com cada aparelho, no caso de 2001, a maça, a bola, o arco e a corda.

A Rússia, aliás, ficaria na primeira posição do quadro de medalhas, com 24 ouros, 15 pratas e 5 bronzes, bem à frente dos Estados Unidos, que terminaria com 14 ouros, 8 pratas e 8 bronzes. O Japão anfitrião faria bonito, com 9 ouros, 6 pratas e 10 bronzes - e isso porque não contam as medalhas dos esportes convidados, nos quais, graças ao sumô e ao gatebol, o Japão ganhou mais três ouros. A maior parte das medalhas do Japão veio do caratê (6 ouros, 3 pratas e 2 bronzes), com ouros também sendo conquistados no salvamento feminino, powerlifting masculino e esqui aquático feminino.

O Brasil teria um bom desempenho em Akita, conquistando três pratas e um bronze - além dos dois bronzes do handebol de praia que não contam para o quadro de medalhas. Além das já citadas pratas do punhobol e do hóquei sobre patins, o Brasil conquistaria uma com José Carlos dos Santos, no fisiculturismo, categoria leves; já o bronze viria com Luciana Hyodo e Max Coelho, na categoria duplas mistas da patinação artística.

O único ponto verdadeiramente negativo dos World Games de 2001 não foi culpa da organização: entre 13 e 22 de agosto, o Japão seria atingido pelo Tufão Pabuk, de categoria 2, que mataria seis pessoas e deixaria feridas outras 32. Em Akita, os danos não foram tão severos, mas, na segunda semana do evento, as fortes chuvas e ventos fariam com que várias provas do punhobol, do cabo de guerra e do paraquedismo tivessem de ser adiadas ou remarcadas. Não querendo arriscar, o Comitê Organizador transferiria a Cerimônia de Encerramento do Estádio Yabase para o Yuwa Skydome, que, além de contar com apenas metade da capacidade - o que fez com que muita gente que tinha comprado ingresso antecipado tivesse que ficar de fora e ser ressarcido - por ser fechado não possibilitou a bela queima de fogos programada para o fim da Cerimônia. Mesmo assim, os World Games de 2001 entrariam para a história como um exemplo de organização e comprometimento de uma cidade com um evento esportivo.

Duisburgo 2005

Mais uma vez, apenas uma cidade se candidataria a sede dos World Games de 2005; dessa vez, entretanto, pode ter sido a própria IWGA quem impediu que outras interessadas se apresentassem: no final de 1999, quando a IWGA ainda nem tinha estabelecido prazo para apresentação de candidaturas, representantes da cidade de Duisburgo, na Alemanha, se encontraram com executivos da IWGA e manifestaram o interesse da cidade em sediar a edição seguinte dos World Games após Akita. No início de 2000, os executivos da IWGA começaram a conversar seriamente com esses representantes, e ficaram muito impressionados com o nível das instalações esportivas e os planos do comitê organizador para o evento. Convidados para uma visita a Duisburgo, os delegados ficaram plenamente convencidos de que a cidade teria condições de realizar uma edição memorável dos World Games. E o resultado foi que, quando o prazo para candidaturas foi oficialmente aberto, todo mundo já sabia que Duisburgo iria ganhar - o presidente da IWGA chegaria a declarar, em uma reunião oficial, que "Duisburgo já despontava como a candidata mais forte a sede" - de forma que ninguém se interessou em concorrer. Como candidata única, Duisburgo seria declarada sede dos World Games de 2005 assim que o prazo para apresentação de candidaturas fosse encerrado.

Localizada no estado da Renânia do Norte-Vestfália, Duisburgo, de 486 mil habitantes, seria, talvez com exceção de Londres, a cidade mais rica a sediar uma edição dos World Games. Contando com o maior porto fluvial do mundo, e sede da companhia metalúrgica multinacional Thyssen-Krupp, a cidade realmente contava com instalações esportivas de última geração, que nada deixavam a dever às de Akita, além de já ter experiência com eventos multiesportivos internacionais, pois já havia sediado a edição de 1987 da Universíade, a Olimpíadas dos esportes universitários. Some-se a isso o já citado fato de que a Alemanha é um dos países que mais dão valor aos World Games, e a tradicional empolgação do povo alemão em sediar torneios esportivos, e, de fato, tínhamos uma candidata muito difícil de ser batida.

A principal instalação esportiva utilizada durante os World Games foi a MSV-Arena, estádio de futebol do time local, o MSV-Duisburg, por um acaso completamente reformada e modernizada em 1999 - sem desrespeitar, portanto, a regra da IWGA de que nenhuma instalação podia ser construída ou reformada apenas para o evento. A Cerimônia de Abertura, realizada ma MSV-Arena, com a presença de mais de 30.000 espectadores, seria considerada a mais empolgante da história dos World Games até hoje. Outro local de competição bastante elogiado foi o parque Wedau, que conta com uma raia de remo e canoagem construída artificialmente para o Campeonato Mundial de Remo de 1983.

Curiosamente, entretanto, pode-se dizer que Duisburgo trapaceou, pois apenas a MSV-Arena e o parque Wedau ficavam, de fato, dentro de Duisburgo; todas as demais instalações esportivas estavam localizadas em três cidades vizinhas, Mulheim, Bottrop e Oberhausen. A IWGA só aceitaria essa configuração porque todas ficavam a menos de uma hora do centro de Duisburgo, e eram utilizadas por times e atletas da cidade de Duisburgo - tanto que, inicialmente, Duisburgo planejava usar também algumas instalações esportivas da cidade de Düsseldorf, mas isso a IWGA não aceitou.

Assim como Akita, Duisburgo transformaria a principal praça da cidade em uma World Games Plaza, local de confraternização entre público e atletas. A cidade também introduziria uma novidade que se tornaria padrão nos World Games seguintes: um gigantesco refeitório onde todos os atletas podiam fazer suas refeições juntos, no estilo do que ocorria na primeira edição dos World Games, em 1981, e visando, mais uma vez, permitir a confraternização. A cobertura jornalística foi a maior feita para uma edição dos World Games até hoje, com envolvimento de rádio, jornais e TV, e o televisionamento ficando a cargo da emissora WDR, que exibiria todas as competições ao vivo para a Alemanha, a maior parte delas para o restante da Europa, e ainda negociaria a transmissão com canais de todo o planeta.

A parte visual do evento, incluindo pôsteres, placas decorativas dos locais de competição, a capa do programa e o mascote, ficariam a cargo da empresa de design Von Mannstein. O logotipo criado pela empresa lembrava a curva que o Rio Reno faz ao longo de Duisburgo, tendo à sua esquerda uma asa estilizada; nas versões coloridas do logotipo, o rio era azul, e a asa trazia as três cores da bandeira da Alemanha. Os pôsteres, placas e programa eram extremamente coloridos, e traziam a palavra faszinationen, que não somente significa "fascinação" como também é uma junção das palavras "fascinar" e "nações" em alemão - tanto que o nationen vinha em negrito. O mascote também teve um nome nesse estilo, Allwin, que, com apenas um l (Alwin), é um nome masculino em alemão, mas, com dois, se tornaria a junção das palavras all (todos, em inglês) e win (vencer, também em inglês), indicando que todos eram vencedores nos World Games.

Os World Games de 2005 seriam realizados entre 14 e 24 de julho, e contaram com a participação de 3.400 atletas de 89 nações disputando 169 provas de 31 esportes: bilhar, boliche, boules, cabo de guerra, caratê, corfebol, dança esportiva, escalada esportiva, esportes aéreos, esqui aquático, finswimming, fisiculturismo, frisbee, ginástica acrobática, ginástica aeróbica, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, hóquei inline, jiu-jitsu, orientação, patinação artística, patinação em velocidade, pesca esportiva, polo a canoa, powerlifting, punhobol, rugby sevens, salvamento, squash, sumô e tiro com arco. Outros seis esportes entrariam como convidados: aikidô, corridas de barcos-dragão, futebol americano, handebol de praia, hóquei indoor e motociclismo (clique aqui para ver todas as provas do programa).

Dois dos novos esportes do programa pertenciam ao mais recente membro da IWGA, a Federação Internacional de Canoagem (ICF), admitida em 2001: o polo a canoa, parte do programa principal, e a corrida de barcos-dragão, participando como esporte convidado. A corrida de barcos-dragão é um esporte interessante, de origem chinesa, na qual barcos de 20 integrantes, dos quais 18 são remadores, um marca o ritmo em um tambor, e o outro controla o leme, disputam corridas de 200, 500, 1.000 ou 2.000 metros. A principal característica desses barcos é que eles possuem uma carranca de dragão na frente, daí o nome do esporte. Assim como alguns outros esportes, a corrida de barcos-dragão é regulada por duas federações internacionais, a ICF e a Federação Internacional de Barcos-Dragão (IDBF), sendo a inclusão no programa dos World Games uma tentativa da ICF de popularizar sua versão do esporte para torná-la a principal, assim como fez a FIRS com o hóquei inline.

Um dos esportes convidados com a maior média de público foi o futebol americano, extremamente popular na Alemanha. A competição contaria com apenas quatro times e quatro jogos, já se iniciando nas semifinais. A medalha de ouro ficaria com a Alemanha, a prata com a Suécia e o bronze com a França, ficando a Austrália em quarto lugar. O hóquei indoor, também bastante popular na Alemanha, teria competições masculinas (ouro para a Alemanha, prata para a Suíça, bronze para a República Tcheca) e femininas (ouro para a Alemanha, prata para Belarus, bronze para a República Tcheca), assim como o handebol de praia, no qual o ouro do masculino ficaria com a Rússia, a prata com a Espanha e o bronze com a Croácia; no feminino, o Brasil obteria sua primeira medalha de ouro em um esporte convidado, ficando a prata com a Hungria e o bronze com a Turquia. Terminando os esportes convidados, o motociclismo foi representado pelo trials indoor por equipes, prova na qual o ouro ficou com a Espanha, a prata com o Reino Unido e o bronze com o Japão.

O programa principal contaria, mais uma vez, com várias novidades, dentre eles a escalada, esporte indoor parente do alpinismo e do montanhismo que pleiteia um lugar nas Olimpíadas, no qual é usada, ao invés de uma montanha de verdade, uma parede cheia de apoios e suportes. Uma novidade curiosa foi o boliche de nove pinos, em sua primeira e última participação, com provas individuais masculina e feminina; mais popular na Alemanha que o boliche tradicional (que usa dez pinos), essa variação usa também uma bola menor, sem buracos, e tem um sistema diferente de pontuação. A novidade no programa da dança esportiva foi a inclusão de uma nova categoria, o rock and roll, e no do paraquedismo foi incluída a prova de pilotagem. Finalmente, o sumô e o cabo de guerra indoor feminino seriam promovidos de esportes convidados, entrando para o programa principal.

Dois esportes fariam sua última participação (por enquanto) nos World Games em 2005, o aikidô e a pesca, na qual o norte-americano Steve Rajeff ganhou mais uma medalha, de prata. Em ambos os casos, a justificativa da IWGA foi a falta de público, já que esses eram os dois esportes de menor público do programa. A IWGA não é contra voltar a incluir esses esportes no futuro caso a cidade-sede faça questão, mas está tendo conversas com a Federação Internacional de Pesca Esportiva (ICSF), buscando tornar o esporte mais atraente.

Os World Games de 2005 tiveram muitos esportes coletivos. No punhobol, o ouro ficaria com a Áustria, a prata com o Brasil e o bronze com a Alemanha. No corfebol, mais um ouro para a Holanda, mais uma prata para a Bélgica, e bronze para a República Tcheca. Na estreia do polo a canoa, ouro para a Holanda, prata para a Alemanha e bronze para o Reino Unido no masculino, ouro para a Alemanha, prata para o Reino Unido e bronze para o Japão no feminino. Outra estreia foi a do hóquei inline, com ouro para os Estados Unidos, prata para o Canadá e bronze para a Suíça. No rugby sevens, novo ouro para Fiji, prata para a África do Sul e bronze para a Argentina. E, no ultimate, ouro para os Estados Unidos, prata para a Austrália e bronze para o Canadá.

O Brasil teria uma ótima participação em Duisburgo, terminando a competição com um ouro, uma prata e dois bronzes. Além da já citada prata do punhobol (e do ouro do handebol de praia feminino, que não conta para o quadro), o Brasil ganharia um ouro e um bronze no fisiculturismo, o ouro na categoria leves, com José Carlos dos Santos (que, assim, ficou com uma medalha de cada cor em casa) e o bronze na categoria meio-médios, com Luiz Carlos Sarmento. O outro bronze viria com Bernardo Ramalho, no torneio individual masculino de boliche de nove pinos.

A Alemanha faria uma belíssima festa em Duisburgo, que só não seria completa porque o topo do quadro de medalhas ficaria com a Rússia, que terminou a competição com 27 ouros, 19 pratas e 11 bronzes, contra 19 ouros, 18 pratas e 20 bronzes dos anfitriões. Mesmo assim, a cidade ficaria tão satisfeita que decidiria se candidatar mais uma vez a sede dos World Games. Mas isso já é uma história para o próximo post da série.

Série World Games

Akita 2001
Duisburgo 2005

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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Escrito por em 19.10.15 com 0 comentários

World Games (IV)

E hoje vamos a mais um post sobre a história dos World Games, com as duas edições realizadas durante a década de 1990!

Haia 1993

Terceira maior cidade da Holanda, atrás apenas de Amsterdã e Roterdã, Haia é mais conhecida por ser sede do Tribunal Internacional de Justiça do que por ser uma cidade ligada aos esportes - o time de futebol local, o ADO Den Haag, por exemplo, no início da década de 1990 tinha uma das piores médias de público do Campeonato Holandês, e, depois do futebol, os dois esportes mais populares na cidade são o críquete e o rugby, que não costumam ter a mesma popularidade no restante da Holanda. Além disso, a Holanda não era exatamente um dos países mais bem sucedidos dos World Games - nas três edições anteriores somadas, havia ganhado 9 ouros, 7 pratas e 11 bronzes. Por tudo isso, pode parecer estranho que Haia tenha decidido sediar os World Games de 1993. A explicação é que a escolha da sede, mais uma vez, teve o dedo do West Nally Group.

Pelos termos do acordo original, firmado em 1981, o West Nally Group teria todos os direitos de exploração comercial sobre os World Games por dez anos, ou seja, até 1991. Era de interesse da empresa, porém, continuar ligada à IWGA, pois os World Games estavam rapidamente se tornando um evento famoso, bem-sucedido e, por consequência, rentável. Assim, quando começou a procurar a sede para os World Games de 1989, o West Nally Group também já estava pensando em seu futuro, e tentando uma extensão de seu contrato.

O ideal para a IWGA seria que a sede de cada edição seguinte dos World Games fosse escolhida antes do fim da anterior, assim como ocorre com as Olimpíadas, dentre outros motivos, porque assim haveria mais tempo para a cidade se preparar para o evento. Mas, como não houve candidatas a sede para os World Games de 1989, era pouco provável que as candidatas a sede dos World Games de 1993 aparecessem antes do final daqueles. Assim, pouco após Karlsruhe assinar o termo com o qual aceitava sediar os World Games de 1989, o West Nally Group já começou a buscar uma sede para 1993, e acabou chegando a um acordo com Haia, que, pouco antes, havia sido escolhida pela Federação Equestre Internacional para sediar, em 1994, outro evento cuja promoção seria feita pelo West Nally Group, os Jogos Equestres Mundiais.

Como o acordo com a IWGA acabaria antes dos World Games de 1993, após garantir a sede, o West Nally Group começou a negociar. Conseguiu uma extensão do acordo atual até o fim daquela edição - ou seja, até o fim dos World Games de 1993, todos os direitos comerciais do evento ainda pertenceriam ao West Nally Group - após a qual o contrato entre as duas entidades seria o padrão, com o West Nally Group fazendo a promoção e o marketing dos World Games, mas os direitos comerciais pertencendo à IWGA. Esse contrato, aliás, está em vigor até hoje.

Se tudo ficou bem entre o West Nally Group e a IWGA, infelizmente o mesmo não se pode dizer da relação entre o West Nally Group e Haia. Assim como em Karlsruhe, de acordo com o contrato firmado, a cidade deveria arcar com todos os custos da organização do evento. Só que, conforme a data da cerimônia de abertura se aproximava, a cidade começou a reclamar de várias exigências feitas pelo West Nally Group, argumentando que elas não constavam do acordo inicial feito quando a cidade se comprometeu a sediar o evento. No fim, esse desentendimento levou ao não cumprimento, por parte de Haia, de várias cláusulas do contrato, o que fez com que, logo depois dos World Games mais memoráveis, tivéssemos os mais facilmente esquecíveis.

A pior parte dos desentendimentos foi que a cidade não concordou em ter que fornecer hospedagem gratuita para os atletas durante o evento. Essa discussão se arrastaria até o início de 1993, e, sem chegar a uma solução, a IWGA, constrangida, teria de pedir às federações nacionais que arcassem com os custos de hospedagem de seus atletas, já que não dispunha de fundos suficientes para alugar hotéis ou dormitórios. Também não houve acordo quanto à impressão e distribuição de programas, pôsteres e outros tipos de material relacionado ao evento; a promoção foi praticamente inexistente, quase não foram vistos anúncios antes do início da competição, e os programas só seriam impressos e distribuídos no dia da cerimônia de abertura. Os locais de competição, poucos e parcamente decorados, davam a impressão de que a cidade estava tentando gastar o mínimo de dinheiro possível com a organização.

Falando em promoção, o logotipo dessa edição foi criado praticamente em cima da hora, e, falando a verdade, ficou muito feio: o intuito dos criadores era usar três elementos presentes no litoral da cidade de Haia - o sol, o mar e as dunas de areia - mas o resultado final ficou extremamente abstrato, lembrando uma pata de caranguejo. Os World Games de 1993 também não tiveram mascote, simplesmente porque ninguém se deu ao trabalho de criar um.

Mas houve, pelo menos, um ponto positivo: o principal patrocinador do evento foi a companhia de telecomunicações KPN, que contratou uma equipe de televisão para filmar as competições e realizar programas no estilo "melhor do dia" e "destaques da rodada"; embora pouquíssimas competições tenham sido transmitidas ao vivo - e, ainda assim, apenas para parte da Holanda, através do canal regional TV West - esses programas seriam vendidos para a ESPN norte-americana, que não somente os exibiria nos Estados Unidos como também os negociaria com outros canais de TV do mundo, com mais de 65 países tendo acesso às imagens dos World Games de 1993 - um recorde para o evento, que, até então, praticamente só podia ser acompanhado, no máximo, pelos países vizinhos do que o sediava.

No plano estritamente esportivo, os World Games de 1993, realizados entre 22 de julho e 1o de agosto, foram considerados bem-sucedidos, com competições de alto nível e boa presença de público - estima-se que 70 mil pessoas tenham comparecido às competições. Ao todo, 2.264 atletas de 72 países disputaram 154 provas de 24 esportes: boliche, boules, cabo de guerra, caratê, corfebol, esqui aquático, finswimming, fisiculturismo, ginástica acrobática, ginástica de trampolim, hóquei sobre patins, netbol, patinação artística, patinação em velocidade, pesca esportiva, powerlifting, punhobol, raquetebol, salvamento, sambô, taekwondo, tiro com arco, triatlo e vôlei de praia (clique aqui para ver todas as provas do programa).

O programa também contaria com quatro esportes convidados. A iniciativa de incluir três deles, dessa vez, não partiria nem da cidade, nem da IWGA, e sim de suas respectivas federações, que visavam aumentar sua exposição, e, consequentemente, sua popularidade. Dois deles eram simplesmente modalidades de outros esportes do programa: o esqui aquático descalço - no qual os atletas competem sem esquis, com os pés diretamente na água - e o cabo de guerra indoor. Até então, as competições de cabo de guerra do programa dos World Games eram realizadas outdoor (ao ar livre), e apenas com atletas masculinos, em duas modalidades, 640 kg e 720 kg (sendo que esses números se referem à soma total máxima do peso de todos os atletas de uma mesma equipe); essa competição que contou como esporte convidado foi realizada dentro de um ginásio, apenas no feminino, e com peso máximo de 540 kg. O terceiro esporte convidado foi o volteio, modalidade da equitação também conhecida como "ginástica sobre cavalos", incluída a pedido da FEI, que também desejava testar as instalações selecionadas para os Jogos Mundiais Equestres do ano seguinte. Além desses três, entraria como esporte convidado, mais uma vez, o aikidô.

A maior parte das competições esportivas aconteceria no Holtrushallen, construído em 1937 para ser um pavilhão de exposições, pouco depois convertido em uma pista de patinação no gelo em velocidade, e, depois da Segunda Guerra Mundial, convertido em uma pista de atletismo indoor. A cerimônia de abertura também ocorreria no Holtrushallen, e contaria com a presença da Rainha Beatrix e com discurso de Kevin Gosper, vice-presidente do COI. Outros locais de competição foram o Zuiderpark Stadion, antigo estádio do ADO Den Haag, e a praia de Scheveningen, popular destino turístico.

Após ficar ausente em 1989, a pesca esportiva voltaria ao programa, e, com ela, o norte-americano Steve Rajeff, que aumentaria sua coleção de medalhas em mais um ouro e um bronze. O francês Patrice Martin, do esqui aquático, também ganharia mais duas medalhas, um ouro na modalidade truques - que lhe renderia a honra de ser o único atleta a ganhar medalhas de ouro nas quatro primeiras edições dos World Games - e uma prata na modalidade saltos. O italiano Marcelo Saporiti, do salvamento, também aumentaria sua coleção de ouros, ganhando mais três, um deles em uma prova de revezamento. E a britânica Andrea Holmes seria tricampeã do trampolim sincronizado feminino, dessa vez em parceria com Susan Challis.

Competindo pela primeira vez após a reunificação, a Alemanha acabaria no primeiro lugar do quadro de medalhas, com 20 de ouro, 17 de prata e 15 de bronze. Já a Holanda anfitriã conseguiria 9 de ouro, 5 de prata e 16 de bronze, repetindo o número de ouros conquistados nas três edições anteriores somadas. A Holanda conseguiria o pódio inteiro no triatlo masculino, enquanto a Alemanha faria dois pódios completos no salvamento, nas provas de carregar manequim com nadadeiras masculina e feminina.

A Rússia também "estrearia" no evento, competindo pela primeira vez após a dissolução da União Soviética, e conseguindo 7 ouros, 8 pratas e 2 bronzes. Curiosamente, o finswimming, no qual a União Soviética conquistou tantas medalhas em 1989, não daria nem umazinha à Rússia em 1993; o esporte que mais daria medalhas à Rússia seria o sambô, arte marcial não por acaso de origem soviética, com cinco ouros e quatro pratas, seguido da ginástica acrobática, com dois ouros e duas pratas. Falando em ginástica acrobática, merece destaque a Bulgária, que, na estreia desse esporte no programa, conquistaria nove dos 11 ouros possíveis, terminando a competição com 10 ouros, 1 prata e 8 bronzes.

O Brasil enviaria uma pequena delegação, a primeira a ter atletas de mais de um esporte - lembrando que, nas duas edições anteriores, havia enviado apenas o time de punhobol. O punhobol não conseguiria uma nova medalha, terminando na quarta colocação, mas, em compensação, o Brasil conseguiria seu primeiro ouro nos World Games, no vôlei de praia feminino, com Adriana Samuel e Mônica Rodrigues, que, em 1996, quando o vôlei de praia estreasse nas Olimpíadas, terminariam com a prata, perdendo para outra dupla brasileira, Jaqueline Silva e Sandra Pires. O vôlei de praia dos World Games também daria uma medalha de bronze ao Brasil, no masculino, com Roberto Moreira e Carlos Garrido.

Nos esportes coletivos, a Alemanha faturaria o ouro do punhobol, com a Suíça em segundo e a Áustria em terceiro. No netbol, finalmente a Austrália daria o troco, ganhando o ouro e deixando a Nova Zelândia com a prata - o bronze seria, mais uma vez, da Jamaica. Já o corfebol não teve surpresas: mais uma final entre Holanda e Bélgica, com mais um ouro para a Holanda, mais uma prata para a Bélgica e mais um bronze para a Alemanha. No hóquei sobre patins, Portugal ganharia mais um ouro, ficando a prata com a Argentina e o bronze com a Espanha.

Felizmente, os problemas de organização não abalariam a credibilidade dos World Games: no início dos anos 1990, eles já estavam estabelecidos como um evento respeitável. Tanto que a edição seguinte, a de 1997, seria a primeira a contar com candidatas a cidade-sede.

Lahti 1997

Dentro do prazo estabelecido pela IWGA, duas cidades se candidataram a sede dos World Games de 1997: Port Elizabeth, na África do Sul, e Lahti, na Finlândia. Após o processo de seleção, Port Elizabeth seria a escolhida, e seu prefeito, inclusive, receberia a bandeira dos World Games das mãos do prefeito de Haia na cerimônia de encerramento de 1993. Não seria dessa vez, entretanto, que a África receberia uma edição dos World Games.

O meio da década de 1990 foi bastante turbulento para a África do Sul: após décadas de governos eleitos pela minoria branca, que levaram a atos discriminatórios contra a maioria negra, sendo o mais famoso deles a política do apartheid, em 1994 o país finalmente teria uma eleição na qual os votos dos brancos e dos negros contavam igualmente, o que levaria à eleição do primeiro presidente negro de sua história, Nelson Mandela - que havia saído da prisão apenas quatro anos antes, após cumprir 27 anos de pena por "traição", ou, em um linguajar mais claro, lutar pelos direitos dos negros. A transição para o governo de Mandela, evidentemente, foi bastante turbulenta, o que levou a um clima de incerteza política e econômica. Sem saber o que o futuro lhes reservava, e sem querer comprometer o orçamento da cidade com um evento esportivo, a Câmara de Vereadores de Port Elizabeth votou por desistir de organizar os World Games, e o prefeito, com pesar, comunicou essa decisão à IWGA em agosto de 1994.

Logo após a desistência, a IWGA entraria em contato com Lahti, para saber se a cidade ainda estaria interessada em organizar o evento. Após algumas negociações, o prefeito de Lahti assinaria o contrato para a organização dos World Games de 1997 em janeiro de 1995, o que deixava a cidade com pouco mais de dois anos para preparar tudo. Apesar do prazo apertado, eles fariam um excelente trabalho.

Localizada no centro-sul da Finlândia, 100 km a noroeste da capital Helsinque, a pequena cidade de Lahti - cujo nome, em finlandês, quer dizer "baía" - de pouco mais de cem mil habitantes, pode ser praticamente desconhecida para o resto do mundo, mas é bastante famosa dentre os praticantes de esqui: além de realizar, anualmente, desde 1950, o Torneio de Esqui de Lahti, evento de esqui nórdico sancionado pela Federação Internacional de Esqui (FIS), a cidade é a recordista em sediar o Campeonato Mundial de Esqui Nórdico, o tendo feito em seis ocasiões (1926, 1938, 1958, 1978, 1989 e 2001). Sua rampa de saltos com esqui é uma das mais famosas e prestigiadas do mundo, e seus times de hóquei no gelo e basquete estão dentre os principais da Finlândia. A cidade também possui um time de futebol, o FC Lahti, que subiu da segunda para a primeira divisão finlandesa em 2011, e cujo estádio foi um dos usados no torneio de futebol das Olimpíadas de 1952, realizadas em Helsinque.

Não faltava à cidade, portanto, amor pelos esportes e experiência para realizar torneios esportivos; apenas pesava contra o fato de que essa experiência era quase toda com torneios de esqui, sendo os World Games o primeiro torneio multiesportivo com presença de esportes "de verão" a ser realizado na cidade. Para contornar esse problema, a cidade não somente criaria um comitê organizador, mas também uma empresa, chamada Lahti Happenings, que cuidaria de toda a parte financeira e de promoção do evento. Tanto o comitê organizador como essa empresa seriam formados, em sua maioria, por voluntários que já tinham experiência advinda de trabalhar no Torneio de Esqui de Lahti ou no Mundial de Esqui Nórdico. Com excelente organização, participação ativa da população e envolvimento direto da prefeitura de Lahti, a cidade conseguiria realizar um evento realmente memorável.

Uma das principais características dos World Games de 1997 foi que os locais de competição eram extremamente próximos uns dos outros, os que possibilitou aos atletas, assim como em 1981, assistirem às competições de seus colegas nos intervalos entre as suas. Os principais locais de competição utilizados foram o Suurhalli, um pavilhão de exposições adaptado para as competições das lutas, do levantamento de peso e da ginástica; o Kisapuisto, um belo parque municipal, usado nas competições de boules e pesca; e o Jäähalli, pista de patinação no gelo adaptada para receber as competições de patinação. A cerimônia de abertura foi realizada no Centro Esportivo de Lahti, onde também ocorreu o torneio de punhobol, e contou com a presença do presidente da Finlândia, Martti Ahtisaari. Os atletas ficariam hospedados nos dormitórios de várias escolas nos arredores da cidade, sem que as federações precisassem arcar com qualquer custo de hospedagem.

O televisionamento dos World Games de 1997 foi o melhor realizado até então: as filmagens oficiais seriam realizadas pelo canal finlandês YLE, que transmitiria várias das competições ao vivo para a Finlândia e Suécia, e ficaria responsável pela preparação dos programas ao estilo "destaques do dia"; a diferença, nessa edição, foi que a Lahti Happenings contratou uma empresa de distribuição, a Trans World International (TWI), para negociar os direitos de exibição das competições e dos programas com redes de TV de outras partes do mundo. Surpreendentemente, mais de 20 canais europeus e 15 de fora da Europa negociariam com a TWI, incluindo canais da Argentina, Austrália, Coreia do Sul e África do Sul. Também graças a essas negociações, pela primeira vez alguns eventos dos World Games seriam exibidos ao vivo para os Estados Unidos e Rússia. Os World Games de 1997 também seriam os primeiros a contar com um website, ainda rudimentar, mas através do qual os visitantes poderiam ler notícias sobre o evento, consultar os resultados das competições e acompanhar o quadro de medalhas.

A Lahti Happenings também contrataria os designers responsáveis pelo logotipo e pelos pôsteres do evento, assim como o artista plástico Osmo Penna, responsável por criar o mascote dessa edição. Penna optaria por uma raposa, animal que, segundo ele, era ágil o suficiente para competir em todos os esportes do programa. Para dar ao mascote uma "aparência mais finlandesa", ele fez a cabeça da raposa no formato de um chapéu tradicional da Lapônia, e, por alguma razão que eu não consegui descobrir, decidiu que sua cor deveria ser verde ao invés de vermelha. Um concurso foi realizado na cidade para escolher o nome da mascote (que é do sexo feminino), e o nome vencedor, sugerido por um professor, foi August, que é não somente o nome do mês durante o qual as competições seriam realizadas, mas também a de um tipo de palhaço tradicional finlandês, e, com seu chapéu, a raposinha lembrava um palhaço. August foi o primeiro mascote verdadeiro dos World Games, estando presente em camisetas, pins, mochilas e pochetes vendidas durante o evento, além de ser usada nos pictogramas, nos quais realmente praticava todos os esportes do programa. Doze desses pictogramas foram transformados em um conjunto especial de pins, bastante procurado por colecionadores, e que hoje vale uma fortuna em sites de leilão.

Os World Games de 1997 seriam realizados de 7 a 17 de agosto, e contariam com a presença de 2.379 atletas de 73 nações, que disputariam 165 provas de 23 esportes: boliche, boules, cabo de guerra, caratê, corfebol, dança esportiva, esportes aéreos, esqui aquático, finswimming, fisiculturismo, ginástica acrobática, ginástica aeróbica, ginástica de trampolim, jiu-jitsu, levantamento de peso, patinação artística, patinação em velocidade, pesca esportiva, powerlifting, punhobol, salvamento, squash e tiro com arco. Aikidô, boules (modalidade jeu provençal), cabo de guerra (modalidade indoor), floorbol, pentatlo militar e pesäpallo seriam os esportes convidados (clique aqui para ver todas as provas do programa).

Mais uma vez, a competição de cabo de guerra indoor, realizada apenas no feminino, seria incluída a pedido da Federação Internacional de Cabo de Guerra (TWIF), que até planejava incluí-la no programa principal, mas, diante do baixo número de equipes inscritas, acabou optando por mantê-la no programa dos convidados. A inclusão de torneios masculino e feminino de jeu provençal, categoria tiro progressivo, também foi de iniciativa da Confederação Mundial de Esportes de Boules (CMSB); até então, a única modalidade de boules presente nos World Games era o pétanque, e a CMSB planejava testar o tiro progressivo antes de pedir sua inclusão no programa principal para 2001. Já o floorbol, o pentatlo militar e o pesäpallo, esportes populares na Finlândia, seriam incluídos a pedido do comitê organizador.

Um dos esportes mais populares a estrear no programa dos World Games em 1997 foi a dança esportiva. Regulada pela Federação Mundial de Dança Esportiva (WDSF), que se filiou à IWGA apenas um ano antes, em 1996, a dança esportiva consiste em casais, um por vez, realizando coreografias ao som de ritmos pré-estabelecidos para cada competição; cada coreografia possui elementos obrigatórios e opcionais, que, de acordo com a forma como são executados, rendem pontos, sendo vencedor o casal que tiver mais pontos após todos terem se apresentado - o que torna a competição bastante parecida com uma de patinação artística, mas sem os patins. Embora conte com um grande número de praticantes e entusiastas, a dança esportiva ainda sofre preconceito, principalmente porque muitos não a veem como um esporte, e sim como uma simples atividade recreativa; ao incluir a dança esportiva nos World Games, a WDSF planejava não apenas diminuir esse preconceito, mas também pleitear um lugar nas Olimpíadas, para dirimir quaisquer dúvidas sobre se a dança seria ou não um esporte. Graças aos World Games, de fato hoje a WSDF está dentre as federações esportivas reconhecidas pelo COI e aptas a pleitear um lugar no programa olímpico, mas, até hoje, na única vez que tentou, para as Olimpíadas de 2000, teve suas pretensões rejeitadas.

Em 1997, seriam realizadas duas competições de dança esportiva, uma na categoria padrão (cujos ritmos válidos são valsa, tango, foxtrot e quickstep) e uma na categoria latina (na qual os ritmos válidos são samba, cha-cha-cha, rumba, paso doble e jive). Curiosamente, na competição latina, o ouro iria para a Dinamarca, a prata para a Eslovênia e o bronze para a Finlândia; na standard, o ouro seria do Reino Unido, seguido de Itália e Alemanha.

Também estrearia nos World Games de 1997 o paraquedismo, regulado pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI), com provas de salto em precisão (na qual o paraquedista tem de pousar o mais próximo possível do centro de um alvo) masculino e feminino, queda estilo livre (na qual o paraquedista realiza coreografias que valem pontos durante a queda) masculina e feminina, e queda em formação (na qual um grupo de quatro paraquedistas realiza diferentes formações que valem pontos durante a queda) mista. O local de pouso foi um hipódromo da cidade, chamado Jokkima. Existe uma certa discussão se o paraquedismo poderia ou não ser incluído nas Olimpíadas, já que a Carta Olímpica proíbe esportes motorizados; pelo argumento da FAI, embora o avião que leve os paraquedistas seja motorizado, os paraquedistas, durante a competição, não o são, mas, pelo argumento de quem é contra, o simples fato de o paraquedismo não poder ser realizado sem o elemento motorizado (avião) já impossibilita sua inclusão, como ocorre com o esqui aquático.

Os World Games de 1997 também seriam a primeira e única vez na qual o levantamento de peso faria parte dos World Games. Em Lahti seria disputado somente o levantamento de peso feminino, já que o masculino faz parte das Olimpíadas desde a primeira edição, em 1896. O intuito da Federação Internacional de Levantamento de Peso (IWF) era fazer alguns testes com o feminino nos World Games antes de pedir sua inclusão nas Olimpíadas, mas a competição de 1997 teve uma procura tão grande de público e um nível tão alto das participantes que ela decidiria incluí-lo já nas Olimpíadas de 2000, inviabilizando sua participação nos World Games seguintes.

O Brasil enviaria para Lahti sua maior delegação na história dos World Games (sendo que esse recorde seria batido sucessivamente em cada uma das edições seguintes, então nem vou perder meu tempo repetindo essa informação nos próximos posts da série), com atletas que competiriam em sete esportes diferentes. Voltaria com três medalhas, sendo uma delas de ouro, conquistada por Marcello de Figueiredo na categoria pesados do jiu-jitsu. As outras duas medalhas seriam de bronze, uma obtida no punhobol e a outra conquistada por José Carlos dos Santos na categoria leves do fisiculturismo. O Brasil também conseguiria em Lahti suas primeiras medalhas nos esportes convidados, uma prata e um bronze no pentatlo militar, com Carlos Alberto Silva e Ribamar Juvino Bandeira, respectivamente.

A Finlândia anfitriã, infelizmente, faria a pior participação na história dos países-sede, conseguindo apenas 9 pratas e 8 bronzes. Nem mesmo nos esportes convidados ela conseguiria ouros: no pesäpallo, no qual o lugar mais alto do pódio era dado como certo, a Finlândia terminaria apenas com o bronze, ficando a Suécia com o ouro e uma surpreendente Austrália com a prata; no floorbol, mais uma vez ouro para a Suécia, com prata para a Finlândia e bronze para Suíça; e no pentatlo militar o ouro ficaria com a China, e a prata e o bronze com o Brasil. As medalhas da Finlândia viriam do caratê, dança esportiva, esqui aquático, fisiculturismo, levantamento de peso, pesca e powerlifting.

Surpreendentemente, o topo do quadro de medalhas voltaria a pertencer aos Estados Unidos - na última vez em que isso ocorreu até hoje - que terminou a competição com 17 ouros, 18 pratas e 11 bronzes, incluindo uma nova medalha para Steve Rajeff, da pesca, que conquistou mais um ouro - sua oitava medalha no total, em quatro edições diferentes. Os Estados Unidos também se destacariam na patinação artística, com ouro e prata nas duplas mistas, prata e bronze na dança, ouro no individual masculino e prata no individual feminino; na patinação em velocidade, na qual conseguiria nada menos que cinco pódios completos, todos em provas femininas (sprint 500 m, contra o relógio 300 m, eliminatória 10.000 m, prova dos pontos 5.000 m e inline 3.000 m); e no paraquedismo, com ouro na queda em formação e na queda estilo livre masculino e prata na queda estilo livre feminino.

Igualmente surpreendente foi o segundo lugar da China no quadro de medalhas, melhor participação do país na história dos World Games, com 16 ouros, 14 pratas e 5 bronzes. A atleta chinesa de maior destaque foi Shaozhen Li, do finswimming, cinco ouros (50 m AP, 50 m SF, 100 m IM, revezamento 4 x 100 SF e revezamento 4 x 200 SF) e uma prata (100 m SF). A ginástica acrobática também renderia muitas medalhas à China, em um total de 3 ouros, 5 pratas e 3 bronzes, e o levantamento de peso renderia mais 3 ouros. Também merece destaque Alexandre Netchiatailo, da Rússia, que, no finswimming, conquistou 5 ouros (50 m SF, 100 m SF, 200 m SF, revezamento 4 x 100 SF e revezamento 4 x 200 SF) e um bronze (50 m AP).

Para terminar, o tradicional parágrafo sobre os esportes coletivos, que, em Lahti, só foram dois: no punhobol, o ouro ficaria mais uma vez com a Alemanha, ficando a prata com a Áustria e o bronze com o Brasil. E, no corfebol, mantendo a tradição, ouro para a Holanda e prata para a Bélgica, com o bronze ficando com Taiwan.

No fim, os World Games deixaram Lahti com a sensação de dever cumprido. E, junto com a bandeira, foi entregue, na cerimônia de encerramento, ao prefeito de Akita, a próxima sede, a responsabilidade de manter os World Games no caminho certo, que finalmente haviam encontrado.

Série World Games

Haia 1993
Lahti 1997

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